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Uma Visão da OTAN e a Atual Crise Geopolítica no Leste Europeu

Artigo de Opinião - Por Leonard Batista, Associado III do Instituto Líderes do Amanhã


A OTAN (do francês: Organisation du Traité de l'Atlantique Nord) é uma organização multilateral que possui 30 membros e opera por consenso. Todos os membros são Estados soberanos e independentes, incluindo países importantes como França, Alemanha, Turquia e Reino Unido.


Recentemente, a organização passou a ganhar uma notada relevância nos noticiários e nas redes sociais dado os acontecimentos da guerra envolvendo Rússia e Ucrânia. Em paralelo, uma enxurrada de análises e opiniões sobre o assunto surgiram, e em muitos casos fora possível identificar a dicotomia entre os argumentos que sugeriam “Quem atacou primeiro? A Rússia ou a OTAN?”. Neste contexto, um ponto crucial é esquecermos o paradigma de quem está certo ou errado, para entendermos que as relações internacionais se passam por um jogo de interesse.


Ao pensarmos sobre a lógica de configuração e distribuição de poder no sistema internacional, é importante salientarmos que os anos 90 foram caracterizados por uma disparidade enorme de poder entre EUA e o resto do mundo, algo inédito nos últimos dois séculos. Este cenário, que no contexto geopolítico é chamado de “unipolaridade”, foi utilizado pelos Estados Unidos para ampliar e consolidar seu poder. Uma das ferramentas utilizadas para isso foi o uso de instituições internacionais e multilaterais como a OTAN. Assim, a expansão da OTAN passa pelo interesse americano em difundir os elementos da chamada ordem internacional liberal.


Por outro lado, é importante lembrar que houve uma mudança recente na distribuição de poder no sistema internacional. Após a queda da URSS, a Rússia ressurgiu como um importante agente geopolítico graças ao aumento do preço do petróleo, que foi de $20 em 1999 para $180 em 2008. A China, por sua vez, realizou seu crescimento exponencial após sua abertura comercial em 1979. Essa combinação de fatores pressiona o tamanho da influência americana e, consequentemente, sua unipolaridade decresce.


Com essa visão, desde 2004 Putin passou a buscar o aumento da influência Russa no cenário geopolítico mundial, mas para que isso aconteça é primordial que ele consiga antes reduzir a influência americana. É aí que nasceu o incômodo de Moscou com o crescimento da OTAN. A ofensiva americana ao propor a inclusão da Ucrânia e Geórgia à OTAN provocou uma reação no governo Russo que, em 2008 invade a Geórgia.


Ao avaliarmos o século XX, os russos invadiram ou ocuparam todos os seus vizinhos ocidentais, da Finlândia passando pelos países bálticos, indo até Geórgia e Azerbaijão. O desejo russo pela soberania através do uso da força e violência leva ao desejo dos vizinhos de Moscou a buscarem a filiação na OTAN o mais rápido possível.


Entre 2008 e 2012, com o governo de Medvedev na Rússia, a tensão decresceu e acordos de cooperação foram assinados. Durou pouco tempo. Com o retorno de Putin ao poder, em 2014 a Crimeia foi anexada, e a OTAN que tinha programas de cooperação com Moscou, encerrou todas as relações.


Não há dúvidas que a OTAN é um dos instrumentos de poder dos EUA. É a ilustração clara do amplo arco de aliados que o país possui e que desenvolveu ao longo de sete décadas. Esta provavelmente é uma das principais vantagens estratégicas sobre China e Rússia, que estão muito distantes nesse quesito.


Por outro lado, é importante analisarmos uma das acusações presentes em noticiários: “O ataque da Rússia seria uma resposta à instalação de bases militares da OTAN?”. Aqui é imperativo entendermos que as bases da OTAN espalhadas pela Europa são equipadas com mísseis de defesa. Sistemas que funcionam baseados na detecção de uma possível agressão de outro míssil e que realiza a defesa baseada nesta detecção. O que é muito diferente da agressão direta realizada pela Rússia à Ucrânia.


Todavia, é importante lembrar que não foi a OTAN que incorporou de forma autocrática os Estados do Leste Europeu. Foram estes que solicitaram para serem incluídos na OTAN, e de preferência o mais rápido possível. Eles sabem bem o que significa ser vizinho da Rússia.

Os movimentos geopolíticos não se passam por uma questão específica, na qual muitos tentam indicar um “certo e errado”. Aqui a questão é como líderes escolhem responder às oportunidades que surgiram devido a mudanças no sistema internacional. Reduzir a guerra na Ucrânia à expansão da OTAN é, no mínimo, equivocado.


Leonard Batista - Associado III.

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