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Resenha Prática - Princípios

Resenha Case Prático - Por Bruno Rigamonti, Associado III do Instituto Líderes do Amanhã


Em 1975, Ray Dalio fundou a Bridgewater Associates, em seu apartamento de dois quartos na cidade de Nova York. Mais de quarenta anos depois, a Bridgewater se tornou o maior fundo de hedge do mundo e a quinta empresa privada mais importante dos Estados Unidos. Dalio descobriu princípios únicos que levaram ao sucesso dele e da Bridgewater. São esses princípios que ele acredita serem a razão de todo o sucesso que obteve.


Princípios, na visão de Ray, são maneiras de lidar com a realidade com sucesso para conseguir o que você deseja da vida. São fórmulas que facilitam as tomadas de decisões futuras em situações semelhantes às que, porventura, ocorreram no passado.


É importante ressaltar que cada um estabelece princípios de modos diferentes. Em alguns momentos, são fruto de nossas próprias experiências e reflexões. Em outros, são passados por terceiros, como nossos pais. Pode ser, ainda, que adotemos princípios advindos de religiões e enquadramentos jurídicos.


Em função de nossa individualidade, cada ser deve escolher princípios que correspondam a sua natureza e seus objetivos, embora não seja ruim utilizar os de outras pessoas. Todavia, para tanto, é preciso refletir sobre o impacto da utilização dos princípios de terceiros na sua vida. E é a partir desses aspectos que Dalio traz um primeiro ensinamento em seu livro: “Pense por você mesmo e decida: 1) o que você quer; 2) o que é certo; e 3) o que fazer para atingir o nº 1 tendo em vista o nº 2.”


O autor explica por que passou a adotar as ditas fórmulas de tomada de decisão em sua vida a partir de um fluxo em que estabelecia metas audaciosas, ocasionalmente tinha alguns fracassos, mas, a partir destes erros, aprendeu princípios, conseguindo evoluir e, assim, podia estabelecer metas mais ousadas.


Ao longo de sua trajetória profissional, Ray Dalio conseguiu organizar, de forma separada, os aprendizados que poderiam se aplicar à sua vida pessoal e os que se aplicavam ao trabalho. De todo modo, eles servem para que se possa tomar decisões que sejam ponderadas pela credibilidade, aprendendo a pesar as opiniões de terceiros e filtrá-las em busca do melhor. Adicionalmente, deve-se agir de acordo com princípios, que acabam se tornando uma coleção de receitas para o processo decisório, e sistematizar esse processo adotando algoritmos que possam ser executados por computadores para que a capacidade de processamento seja combinada com a percepção humana das situações.


O livro é segmentado em três partes: a primeira (De onde venho) se trata de um resumo das experiências pessoais desde o início da vida do autor até a descoberta dos princípios que norteiam sua tomada de decisão. A segunda parte (Princípios de vida) traz uma abordagem sobre como podemos entender as nossas vidas, relações e negócios por meio de princípios. A terceira e última parte (Princípios de trabalho) se dedica a explicar como a empresa fundada por Dalio, a Bridgewater Associates, teve um crescimento exponencial devido à construção e solidificação de meritocracia de ideias, relações relevantes, sinceridade e transparência radicais. A última parte do livro, na visão do autor, tem um potencial de impacto muito maior, principalmente pelo fato de acreditar que a força de um grupo de pessoas é muito maior que a de um indivíduo.


Aprofundando na primeira parte do livro, Dalio compartilha suas experiências pessoais, desde os aspectos familiares, contexto em que viveu e sua personalidade. Uma de suas principais descobertas foi a prática de meditação transcendental, que permite a expansão da consciência e o pensamento mais claro e criativo.


A partir de sua capacidade de reflexão e da época em que viveu, Ray sempre foi um questionador do status quo. Observador, passou a entender a relação existente entre notícias e mercado, enxergando o panorama completo, compreendendo a relação de causa e efeito entre os dois.


A visualização de sistemas complexos como máquinas, a compreensão das correlações de efeitos a partir de determinadas causas, a escrita dos princípios usados para lidar com as situações e a alimentação de programas de computador com essas informações a fim de que ele pudesse tomar decisões em seu lugar se tornaram práticas comuns no trabalho de Ray. Esses foram os principais pilares da construção de seu negócio, juntamente de relações mutuamente genuínas, que deram a ele uma grande vantagem no ambiente profissional.


A trajetória da Bridgewater não foi marcada apenas por crescimento e sucesso. Houve um momento em que, por algumas falhas nas análises do que poderia ocorrer no mercado financeiro e na economia, a empresa se posicionou acreditando que um determinado cenário iria ocorrer e apostou todas as suas fichas. Todavia, esse cenário não se consubstanciou. Desse modo, por uma série de fatores, a empresa se reduziu a apenas um homem (o próprio Dalio). A partir desse acontecimento, o empresário buscou tirar lições para que isso não ocorresse novamente e reergueu a empresa do zero.


Identifico-me com a história e personalidade de Ray Dalio exatamente pela situação acima. Em determinado momento, ele confiava tanto em sua capacidade que acabou falhando miseravelmente, e isso fez com que perdesse toda a sua credibilidade, clientes e tivesse que recomeçar do zero. Essa situação gerou um grande aprendizado para ele: o de que era necessário ter humildade para avaliar as situações de maneira mais afastada e, eventualmente, se questionar se tem todas as informações necessárias para tomar uma boa decisão.


Em 2018, criei meu primeiro negócio com um conhecido e outros três amigos dele. Particularmente, sempre tive uma veia empreendedora e queria muito sair da condição de funcionário para montar um império. Para tanto, estruturamos um plano de negócios ousado, com métodos inovadores, precificação agressiva, com o objetivo de oferecer serviços especializados no que seria o tripé de quaisquer empresas: comercial, processos e financeiro. Durante o primeiro ano do negócio, fizemos jornada tripla, visto que permanecemos nos empregos em que já estávamos, e nos desdobrávamos para atender os clientes na nova empresa. Tomamos um passo de fé e largamos os trabalhos onde éramos funcionários para apostar no novo negócio no início de 2020. Contávamos com as economias individuais de cada sócio até que os resultados financeiros pudessem manter nosso padrão de vida. Três meses se passaram, um sócio abandonou o barco, outro tivemos que literalmente retirar da empresa por não se dedicar minimamente, outro tinha problemas com drogas e, por fim, me vi em uma empresa sem mão de obra, sem clientes, já que estes pediram para cancelar os contratos por causa do estopim da pandemia, e sem perspectivas de ter resultados de curtíssimo prazo que pudessem suportar as escolhas que fizemos naquele ano.


Foi nesse contexto que tive contato com a obra de Ray Dalio. Assim como ele, foi possível realizar uma retomada de um negócio sólido pela aplicação de um processo que o autor definiu na segunda parte do livro como Cinco Etapas para conseguir o que você quer da vida:


1) Defina objetivos claros; 2) Identifique e não tolere os problemas que ficam no caminho desses objetivos; 3) Diagnostique com precisão os problemas para atingir as causas raízes; 4) Projete planos para superá-los; 5) Faça o que for necessário para que esses projetos alcancem os resultados.


Ele ressalta que nem todas as pessoas conseguem fazer todas as etapas bem, por isso, pessoas com habilidades distintas, trabalhando bem em equipe, criam máquinas mais aperfeiçoadas para produzir conquistas.


Fizemos exatamente isso: me associei ao único sócio remanescente na empresa junto de um funcionário e criamos uma nova empresa no final de 2020. Reformulamos o escopo de atuação e definimos objetivos que condiziam com o que conseguiríamos entregar. Com a compreensão dos erros do passado, tivemos a humildade de recomeçar, agora com planos factíveis, e fizemos o que era necessário para dobrarmos o faturamento em 2022 em relação ao ano passado. Mais do que isso, aumentamos o padrão de vida de todos os sócios (em relação ao momento anterior à criação do primeiro negócio) e montamos uma equipe sólida que tem crescido a cada mês.


Abordando o que Dalio chama de Princípios de Nível Superior na segunda parte do livro (Princípios de Vida), comenta-se que é preciso aceitar a realidade e lidar com ela. Para tanto, é possível olhar para a natureza para aprender como a realidade funciona.


Além disso, é preciso ter a mente radicalmente aberta e compreender que os circuitos das pessoas são bem diferentes. Devemos entender que as melhores ideias muitas vezes vêm de quaisquer pessoas, mesmo que não tenham os cargos mais altos em uma organização. Diferentes pontos de vista a respeito de um mesmo objeto de discussão (baseado numa meritocracia de ideias) auxiliam na clareza de qual caminho a se seguir. Isso foi levado muito a sério na minha empresa, visto que, independentemente se o indivíduo é um estagiário ou o sócio da empresa, todos têm a oportunidade de opinarem em diferentes situações, tais como nas reuniões mensais de All Hands, em que mostramos literalmente todos os números da empresa abertamente, como os KPIs financeiros, os progressos em relação ao planejamento estratégico, bem como as atualizações relevantes de clientes e mercado. Contudo, não basta apenas ter um ambiente de livre debate. É necessário ponderar sobre a credibilidade de quem está contribuindo com elas. Por isso, criamos um histórico de opiniões a respeito de determinados temas em que cada indivíduo passa a ter um peso naquilo que opina em função de quantos acertos no passado ele teve em relação a determinada matéria de debate. Ademais, entender como as pessoas são faz com que consigamos colocá-las em funções certas, criando equipes complementares, que são a chave para o sucesso de uma empresa.


Ao longo da trajetória de criação e lapidação da Bridgewater, Ray Dalio criou um software de avaliação de perfis de seus funcionários, o que o permite construir times complementares baseado em suas melhores capacidades e comportamentos, extraindo o máximo de cada indivíduo para potencializar o time como um todo. Na minha empresa, a primeira tarefa que uma pessoa deve fazer ao entrar na equipe é preencher o teste de personalidade criado por Ray Dalio, disponível na plataforma PrinciplesYou. A partir dele, entendemos em quais posições cada colaborador poderá brilhar no seu máximo, fazendo-os serem as suas melhores versões.


Logo depois, durante o onboarding, nosso funcionário é levado a conhecer os pilares da empresa. E não poderia deixar de se aprofundar nos princípios da organização, criados à luz do livro de Dalio. Os treze “algoritmos” de comportamentos e tomadas de decisões traduzidos em frases que permeiam a cultura da empresa são parte fundamental do impacto que queremos gerar, primeiro em nossa equipe, para só então conseguirmos gerar o desenvolvimento do ambiente de negócios que propiciamos a nossos clientes. São eles:


1. Assuma a responsabilidade por si mesmo;

2. Ouça e aprenda com outras pessoas de sucesso;

3. Ame o que você faz e faça;

4. Aprenda com os erros dos outros;

5. Não tente ser perfeito;

6. Mude agora antes que você precise;

7. Entregue o que promete;

8. Não dê desculpas;

9. Assuma o controle de sua vida;

10. O trabalho não pode ver horas;

11. Planeje e priorize;

12. Acredite em si mesmo;

13. Dê aos outros mais do que eles esperam.


Dalio finaliza a segunda parte do livro, dizendo que é preciso aprender a tomar decisões de maneira eficiente, e isso passa por um processo de duas etapas: primeiro aprendendo e depois decidindo. A decisão, portanto, é o processo de escolher a qual conhecimento recorrer. Devemos, por conseguinte, utilizar credibilidade ponderada por pessoas cujo conhecimento e experiências sejam altamente confiáveis para melhorar suas decisões. Fazer uso de princípios é também um modo de simplificar e, ao mesmo tempo, aprimorar seu processo decisório. Ademais, é primordial converter seus princípios em algoritmos e fazer seu computador tomar decisões em paralelo com você. Se puder fazer isso, o poder do seu processo decisório será levado a um patamar totalmente diferente.


Em resumo, temos o seguinte fluxo: Pensamento > Princípios > Algoritmos > Decisões Excelentes.


Em diversos momentos, meus colaboradores e sócios costumam brincar comigo quando começo uma frase dizendo: “No livro Princípios (…)”, e eles, de imediato, retrucam: “Segundo A Palavra de Mestre Ray”, em uma espécie de alusão a algum tipo de religião que acabei criando envolta da obra de Dalio. E as analogias não param por aí. Já ouvi trocadilho entre os nossos nomes, Pequeno Ray, dentre outros adjetivos provindos da comparação ao autor de Princípios.


Não bastasse tudo isso, coloquei o livro na literatura básica de todos os funcionários que vierem a fazer parte da empresa. No ciclo mensal de leitura e discussão de livros que temos, o de Dalio, certamente, mostrou uma trilha lógica e muito bem fundamentada de como é possível criar ambientes que valorizam performance, boas tomadas de decisão, uso racional da inteligência e fatos e dados para construção de máquinas de crescimento nos negócios. A minha empresa se baseia exatamente nisso: existimos para potencializar o crescimento estruturado de boas empresas, e isso passa por entender a complexidade das interações de uma operação, enxergar possibilidades de padrões, extrair insights valiosos a partir de uma análise criteriosa e, por fim, tomar decisões lucrativas para a empresa.


Na terceira parte de seu livro, Ray explora seus princípios de vida, só que, desta vez, aplicados a grupos. Dentre os diversos princípios compartilhados, um dos que geram maior impacto em uma organização empresarial é cultivar trabalho relevante e relações relevantes, o que envolve ser leal à missão comum, não àqueles que não se encaixem nela.


Outro princípio importante é o de fazer o que você se propôs a fazer, trabalhando por objetivos que empolguem você e a sua organização, propondo soluções criativas, que criem atalhos, reservando tempo para descanso e renovação quando preciso. Além disso, quando você e sua equipe tiverem persistido com sucesso até alcançar as metas, comemore!


Por se tratar de um livro denso, com muitos desdobramentos de princípios de nível superior, outros de nível intermediário e subprincípios, a obra do autor pode ser considerada um manual diário para todos aqueles que pretendem desenvolver uma organização de alto impacto a nível global e que acreditam que é possível seguir a Jornada do Herói (uma referência ao livro o herói de mil faces escrito por Joseph Campbell).


Heróis não nascem heróis, vão se transformando à medida em que os acontecimentos da vida se desenrolam. Inicialmente ele é atraído por um “chamado à aventura”. Isso o leva por uma “estrada de adversidades” repleta de batalhas, tentações, sucessos e fracassos. É nessa trajetória que fazem aliados e inimigos e aprendem a lutar. Inevitavelmente todo herói passa por pelo menos um grande fracasso (chamado de abismo), um evento que testa se ele tem a resiliência para dar a volta por cima e retomar a batalha com mais inteligência e determinação. Ele passa por uma mudança (metamorfose) na qual experimenta o medo que o protege, sem perder a agressividade que o impulsiona adiante. Com os triunfos vêm as recompensas, e, ao longo da jornada, ganham uma “benção” (um saber especial sobre como alcançar o sucesso). Com o tempo, o herói quer “retribuir as bênçãos” e, desse modo, está livre para viver plenamente.


Ao compartilhar sua história, princípios de vida e trabalho (além de prometer a divulgação de princípios econômicos e de investimento como continuação à sua obra), Ray Dalio enxerga que passou por todas as fases da jornada do herói e está retribuindo suas bênçãos. Para construir uma jornada de sucesso como a dele, cabe a cada um decidir o que quer obter da vida e o que quer dar, assim como ele o fez e está fazendo.


O livro Princípios tem uma parcela tão relevante na construção de minha maturidade empresarial que, seguramente, posso dizer que é o livro que mais influenciou a minha forma de pensar. Talvez pela identificação natural com o autor, que se denomina um formatador, um criador, mas que, ao mesmo tempo, tem a capacidade de pensar sistemas complexos e simplificá-los em algoritmos, os tais princípios.


Se alguém me perguntasse “qual a pessoa que você gostaria de tomar um café?”, sem sombra de dúvidas, Ray estaria no topo do ranking. Primeiro pela capacidade de entender que, muito mais do que ter construído um império bilionário, de nada adiantaria deter todo o conhecimento do mundo se ele se perdesse com você quando suas forças se esvaírem.


Um dos vídeos mais benéficos para a compreensão da economia, que muitas vezes precisaria ser explicada em anos de conversas e narrativas, foi traduzido por Dalio em apenas trinta minutos de uma obra de arte que comunica com todas as línguas, povos e credos da humanidade sobre as trocas de valor em uma sociedade. Essa é apenas uma das várias contribuições na construção de um legado de conhecimento denso e aprofundado sobre diversas culturas que Ray conseguiu elaborar e simplificar ao longo de sua vida. A grandeza desse indivíduo ultrapassa gerações, fronteiras e corações. Alcançou-me numa pequena ilha do estado do Espírito Santo no Brasil, transformou a cultura da minha empresa, fortaleceu os pilares do meu negócio e fez prosperar todo um ecossistema a partir da força de um time que conhece muito bem o poder de bons Princípios. Vida longa ao Mestre Ray!


Bruno Rigamonti, Associado III.

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