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Resenha - Os erros fatais do socialismo
Resenha Crítica - Por Tito Kalinka, Associado Trainee do Instituto Líderes do Amanhã
Um dos mais respeitados representantes da Escola Austríaca de Economia, Friedrich Hayek nasceu em Viena no ano de 1899. Economista e filósofo, foi de grande contribuição para diversas áreas de estudo, sendo as ciências econômicas, como não poderia deixar de ser, a maior delas. Serviu na Primeira Grande Guerra e declarou que a experiência na guerra e o desejo por evitar que os mesmos erros que a ocasionaram fossem evitados influenciaram sobremaneira a sua carreira. Recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1974 e foi um grande crítico do socialismo e da economia planejada.
O livro “Os erros fatais do socialismo” foi um divisor de águas no campo da filosofia política. Crítico ferrenho de toda e qualquer ideia totalitária, seja no campo político, econômico ou social, ele começa afirmando que a ordem ampliada, ou seja, como o nosso mundo se desenvolveu, nasceu de forma espontânea, sem que ninguém tivesse tido a intenção de fazê-la. Veio de formas tradicionais e, acima de tudo, morais, difundindo-se rápido por meio da seleção evolutiva. Se a sociedade dispõe de um sistema de eficácia comprovada e que sofreu uma grande evolução ao longo dos anos, não tem motivo para escolher outra simplesmente por efeitos imediatos e, muitas vezes, distorcidos. Julga que as normas que pautam o socialismo advém de uma teoria da racionalidade ingênua e de uma metodologia obsoleta, chamando-a de “racionalismo construtivista”.
Já no primeiro capítulo, compara a vida da sociedade nos tempos antigos com os de agora. Na ordem ampliada, o conhecimento está disperso e cita vários autores que acreditam que antes o homem era solidário e altruísta. Adam Smith foi o primeiro a perceber que encontramos métodos de ordenação da cooperação econômica humana que excedem os limites do nosso conhecimento e percepção, a famosa mão invisível e ainda citando Bailey: “o conhecimento minucioso de milhares de detalhes específicos não será adquirido por ninguém a não ser aquele que tem interesse em conhecê-los”. Para citar a origem da tradição socialista, o autor remete à impressão trazida de Cristovão Colombo e do “bom selvagem”, em que se vivia em plena harmonia nos primeiros povos da América, onde a cooperação com certeza seria melhor que a competição. Somente com maior concorrência e competitividade chegamos ao progresso em que nos encontramos hoje.
No segundo capítulo o autor trata sobre a liberdade, a qual diferentes indivíduos buscando objetivos distintos, guiados simplesmente pelo seu talento e conhecimento, tornam possível não só pelo controle separado de vários meios de produção, mas também pelo reconhecimento dos métodos aprovados de transferência desse controle. Da propriedade separada, privada, e pelo respeito aos contratos, o autor argumenta que o indivíduo pode usar coisas específicas e se aliar a qualquer grupo com objetivos comuns e que precisa e depende do reconhecimento geral de uma esfera privada respeitada, da qual o indivíduo é livre para dispor, e de um meio igualmente reconhecido de transferir o direito a coisas particulares de uma pessoa a outra. A proteção à propriedade separada, não o controle do seu uso pelo governo, estabeleceu os fundamentos para o crescimento da densa rede de intercâmbio de serviços que moldou a ordem ampliada. “Onde não há propriedade, não há justiça”.
No terceiro capítulo, ele destaca a importância do comércio como sendo, desde sempre, uma instituição indispensável na qual as comunidades passaram a dever a sua própria existência. A arqueologia moderna confirma que o comércio é mais antigo do que a agricultura ou qualquer outro tipo de produção regular. Com o desenvolvimento do comércio pelas civilizações, a densidade populacional aumentou e começou pelo próprio desenvolvimento comercial, a se instalar em outras localidades buscando uma maior rede comercial.
No quarto e quinto capítulo, o autor traz à tona conceitos de outros autores como o positivismo, a racionalidade construtivista e outros termos que nos remetem a um pensamento que a sociedade poderia ser planejada e racionalmente entendida. O capitalismo, na visão do autor, não satisfaz os requisitos e se torna algo anticientífico ou irracional. No mercado, as consequências não premeditadas são soberanas: a distribuição de recursos é efetuada por um processo impessoal no qual os indivíduos, agindo em vista dos próprios fins, normalmente vagos, não sabem e não podem saber qual será o resultado geral de suas intenções. O que não pode ser conhecido, não pode ser planejado.
Já no sexto capítulo, trata-se do dinheiro e da utilidade marginal, esta que nada mais é do que a tarefa do indivíduo, em função de seus conhecimentos ou habilidades separados, ajudar, por uma contribuição de sua escolha, a satisfazer as necessidades da sociedade. A compreensão do comércio e das explicações da determinação dos valores relativos em termos da utilidade marginal é fundamental para entender a ordem da qual depende o sustento dos seres humanos existentes e é estranho tanto a mente primitiva quanto ao construtivismo reinante, bem como ao socialismo.
Nos últimos capítulos, o autor aborda a questão do vocabulário, das falácias em relação à briga de classes e a religião. Do ponto de vista das palavras, tudo que possa vir com o manto de “social” é bom e é muito usado por todo o espectro socialista. Qualquer demanda ou o que o Estado queira planejar de nossas vidas, se vier com a capa de justiça social, é sempre interessante e altruísta, visando o bem comum.
Em relação ao proletariado, o capitalismo trouxe progresso e melhores condições de vida para todos. Se perguntarmos o que os homens devem, antes de tudo, às práticas dos capitalistas, a resposta é simples: suas próprias vidas. Embora essas pessoas possam se achar exploradas e os políticos joguem com elas pra ganhar poder, o mundo deve todo o seu desenvolvimento a eles.
E, finalmente, em relação à religião, o autor compara toda a criação moral e a evolução do capitalismo até aqui à evolução da religião, pois nem sempre tudo é baseado na razão e nada pode ser planejado. Somente o capitalismo, com o seu conhecimento difundido e sem amarras, pode trazer progresso e prosperidade.
Portanto, entender o livro e suas nuances pode ser um tanto complicado, mas Hayek consegue expor de forma muito inteligente questões falaciosas contidas no pensamento planejado e socialista.

Tito Kalinka, Associado Trainee.