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Resenha - Os erros fatais do socialismo
Resenha Crítica - Por Thiago Garcia, Associado Trainee do Instituto Líderes do Amanhã
Neste livro, publicado em 1988, Friedrich A. Hayek apresenta um estudo crítico das ideias centrais do socialismo. O economista e filósofo foi um dos principais expoentes da Escola Austríaca de pensamento econômico e conquistou o prêmio Nobel de Economia em 1974. Ao longo da sua carreira acadêmica foi professor nas renomadas London School of Economics, Univerdade de Chicago e Universidade de Freiburg. Além disso, Hayek escreveu uma série de obras sobre o liberalismo clássico, com destaque para O caminho da servidão (1944).
Em Os erros fatais do socialismo, com o título original em inglês The Fatal Conceit (A Presunção Fatal, em tradução livre), o autor expõe que a presunção de achar que se pode desenhar um mundo de acordo com o que se deseja é o principal erro do socialismo. Hayek sustenta que a ideia de planejamento central parte da ingênua visão de que a razão humana pode moldar uma sociedade, quando dificilmente atinge os objetivos traçados inicialmente. Neste contexto, traz exemplos como União Soviética e Cuba para sustentar a sua tese.
Por outro lado, Hayek evidencia que a ordem espontânea é capaz de coordenar os esforços de um povo melhor do que qualquer alternativa planejada, por mais brilhantes que sejam as mentes responsáveis pelo planejamento. Esta ordem de cooperação humana baseia-se no livre mercado, no qual os indivíduos tem a liberdade para empreender e negociar nos mais diversos ramos de atividade. Trata-se de um processo pelo qual os cidadãos atingem um grau de cooperação mútua não planejada e que, na maioria das vezes, não é perceptível.
O livro também aborda os limites da razão humana. Para Hayek as regras de moralidade da nossa sociedade não são fruto da razão, mas um processo evolutivo construído ao longo do tempo, sendo ensinadas e aperfeiçoadas de geração em geração. A evolução ocorreu por meio de tentativa e erro, através de experimentações nas mais diversas áreas.
A respeito da propriedade privada, denominada pelo autor como propriedade separada, a define como a essência da moralidade de toda civilização avançada, sendo inseparável da liberdade individual. A propriedade separada tem ainda crucial importância no desenvolvimento do comércio, e, por conseguinte, de estruturas maiores de cooperação com o surgimento de preços.
Sobre o comércio, Hayek destaca o fato dessa atividade ser considerada imoral ao longo da história. Isso decorre pelo fato de seus críticos não enxergarem geração de valor ao produto pela movimentação de mercadorias entre regiões. Todavia, o comércio tem papel fundamental na melhor alocação dos recursos, possibilitando desenvolvimento e maiores lucros para empresários de diversas regiões, mesmo aquelas que não contariam com determinados insumos não fosse a atividade comercial.
Importante mencionar que tanto a propriedade separada, quanto o comércio são criticados pelos socialistas. Os defensores desse sistema também reprovam o lucro obtido pelos empresários que detém sob sua propriedade meios de produção. Neste ponto, Hayek esclarece que a busca pelo lucro é o que torna possível o uso mais eficiente dos recursos.
Ao longo da obra, o autor critica expoentes do socialismo, principalmente Karl Marx, John M. Keynes e Friedrich Engels. Considera que estes intelectuais não se conformam em ser meras forças de mercado ocultas e por isso tentam assumir ou incentivar a criação de um planejamento central.
O livro traz conceitos importantes ao longo dos capítulos, mas a sua compreensão não é trivial. Ao abordar campos da filosofia, economia e evolução humana, a obra traz uma complexidade que pode gerar incompreensão aos seus leitores.
Por outro lado, a diversidade de exemplos, menções a autores (inclusive de opiniões opostas) e flutuações entre diferentes campos de conhecimento, tornam a obra um instrumento potente de crítica ao socialismo. Ao ler e compreender o que Hayek pretende expor, o leitor adquire conhecimentos para contra-argumentar aspectos do socialismo e de sistemas intervencionistas em geral.

Thiago Garcia, Associado Trainee.