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Resenha - Os erros fatais do socialismo
Resenha Crítica - Por André Polido, Associado Trainee do Instituto Líderes do Amanhã
Friedrich August von Hayek, ou F.A. Hayek, foi um renomado filósofo e economista austríaco, nascido em Viena, em 1889, e ganhador do prêmio Nobel de Economia. Teve o seu pensamento econômico relegado por várias décadas com a preferência de muitos políticos e economistas pelo Keynesianismo, desenvolvido por seu principal rival, John Maynard Keynes.
O cenário começou a mudar a partir de 1944, coincidindo com o período no qual Hayek publicou uma de suas principais obras, “O Caminho da Servidão”, vindo o autor, finalmente, a se consagrar ganhador do prêmio Nobel de Economia em 1974, como marca do reconhecimento de seu pensamento econômico, voltado ao funcionamento e evolução espontânea e gradativa da civilização por meio da Ordem de Mercado, consideradas a liberdade, propriedade privada e a Justiça, focando sua atenção, ainda, a um estudo do real papel do governo no cenário em questão.
Nesse contexto, em 1988, Hayek publicou a obra “Os Erros Fatais do Socialismo”, na qual, mais do que criticar diretamente os fundamentos apresentados por supostos “intelectuais” do socialismo, realiza um verdadeiro estudo da história da humanidade e do desenvolvimento espontâneo e gradativo do comércio, a partir, principalmente, dos fenômenos que aponta como desenvolvedores da “ordem ampliada”.
Em se tratando desse conjunto completo de inter-relações, conforme os ensinamentos de Hayek, é possível definir a ordem ampliada como um complexo universal de relações humanas que veio a ser desenvolvido com a evolução da civilização, principalmente por meio da tradição, do crescimento populacional, aumento da densidade de ocupação, e, principalmente, pela ampliação das relações humanas autônomas, reguladas por regras gerais e abstratas de conduta, um sistema muito mais amplo e complexo do que as antigas micro-ordens sociais.
A Ordem Ampliada consiste, sobretudo, em um complexo de relações humanas marcado pela liberdade, pela detenção difusa da informação pelos indivíduos, pelo respeito à propriedade privada bem como pela Justiça, produtos de um desenrolar espontâneo e gradativo da história da humanidade, trajetória construída sobre os pilares da tradição.
Hayek, nesse sentido, explora de forma fascinante toda uma trajetória histórica da economia, do mercado e da propriedade privada, analisando a evolução cultural e criticando uma visão artificializada do socialismo, partindo sempre da ótica atual, caracterizada pela existência e pelo funcionamento da citada ordem ampliada, deixando clara a "utopia" do socialismo no cenário em questão, aproveitando para apontar inúmeros de seus efeitos danosos.
Sobretudo, nos recorda, com base em diversos exemplos históricos, de que o "inferno está repleto de boas intenções". Principalmente quando aponta a periculosidade que marca a tentativa de pretensos “intelectuais” de sobrepujar de forma artificial a moralidade tradicional, como se esta houvesse sido imposta por um grupo reduzido de interessados, uma suposta e fantasiosa “elite”, não um produto espontâneo e gradativo da evolução da humanidade, do convívio social, e, especificamente, do comércio como um de seus elementos centrais.
No decorrer da obra, o autor ainda tece outras diversas e fundamentadas críticas aos pretensos “intelectuais” citados, abordando uma vertente que denominou como racionalismo construtivista, responsável pelas tentativas de alteração artificial da moralidade tradicional e de todos os institutos que vieram a ser desenvolvidos de forma espontânea e gradativa pela via da tradição, como se pudesse “reconstruir” a humanidade pelos pilares da “razão pura”. Que direito a estes indivíduos assiste para tal?
Hayek apresenta, no decorrer da obra, mais do que qualquer fundamento simplista pelo qual o regime socialista jamais poderia gerar frutos benéficos para a sociedade global, embora pareça óbvio para alguns o seu caráter utópico, mas sim todo o contexto evolutivo da humanidade, fazendo com que, quando resolva finalmente explicar o porquê do não funcionamento do regime socialista, o leitor, apenas da leitura do contexto demonstrado pelo autor, já tenha atingido tais conclusões.
Acredito que, por todo o exposto, a obra ultrapassa, e muito, uma mera crítica direta ao socialismo, como me passara a impressão ao observar pela primeira vez a capa de responsabilidade da edição brasileira. Consiste em uma análise bastante aprofundada da constituição e evolução dos alicerces da ordem de mercado, que, como muito bem demonstrado por Hayek, nada mais foi do que um produto da evolução da própria civilização.
A obra é brilhante e demonstra o potencial ludibriante e sedutor de alguns ideais socialistas, embora mostre da mesma forma que, ao contrário do que se tenta em alguns momentos sustentar, não há qualquer espontaneidade, liberdade, um pingo sequer de humanidade ou uma perspectiva real de vida digna em um regime socialista. Assim, termino com a pergunta: há realmente vida em um regime socialista?

André Polido, Associado Trainee.