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Resenha - O que o governo fez com nosso dinheiro

Resenha Crítica - Por Hermes Vinícius Fim, Associado Trainee do Instituto Líderes do Amanhã


A compreensão sobre o dinheiro e sua função é uma temática bastante debatida por economistas de todo o mundo, mas poucos conseguiram fazer uma explanação sobre o dinheiro, o governo e o livre mercado de forma tão simples e didática como Murray Newton Rothbard apresenta na obra “O que o governo fez com o nosso dinheiro?”.


Murray N. Rothbard nasceu em 2 de março de 1926 em Nova York, se formou em Matemática e fez Mestrado em Economia, ambas as formações pela Columbia University. Rothbard criou sua filosofia política, combinando a economia austríaca aos pensamentos em defesa da liberdade individual. E ao longo de sua trajetória, o brilhante economista e filósofo político teve a influência de relevantes nomes da economia mundial, como Ludwig von Mises e Friedrich Hayek. Com o passar dos anos e a evolução de seu trabalho, Rothbard desenvolveu e promoveu o seu estilo de libertarianismo.


Em seus trabalhos e discursos, Rothbard dá atenção especial para a teoria monetária, na qual dá ênfase ao padrão-ouro clássico e apoiou uma reserva bancária de 100%. Essa linha de raciocínio fica evidenciada no livro “O que o governo fez com o nosso dinheiro?”. Nessa obra o autor faz uso de exemplos simples e traz contextualização didática para explicar a teoria monetária, de forma que sua ideia se torne acessível até aos mais leigos. A obra pode ser dividida em três partes: na primeira o autor contextualiza como é o dinheiro em uma sociedade livre; na segunda aborda a interferência do governo na moeda e seu efeito; na terceira é descrita uma análise sobre a história monetária no ocidente. A versão brasileira conta com um capítulo extra de posfácio, na qual Fernando Ulrich complementa a análise feita por Rothbard sobre o ocidente.


Rothbard inicia sua exposição sobre o dinheiro em uma sociedade livre falando do valor da troca, e que sem esse mecanismo não seria possível haver economia, talvez nem sociedade. Reforça que as trocas são força vital para a civilização, que é graças a ela que as sociedades evoluíram. Mas que as trocas diretas não são suficientes para manter a economia, então faz-se necessário ter um item a ser utilizado para intermediar as trocas, tendo-se, assim, as trocas indiretas. O item de intercâmbio muito funcional que permitiu o crescimento da economia foi o dinheiro, sendo que o livre mercado escolheu o ouro e a prata como as formas mais eficientes de dinheiro.


É preciso ter a ciência de que o dinheiro é uma mercadoria e, como tal, possui estoque real. Porém ele não possui demanda de consumo, como roupas e comida, ele tem a função majoritária de ser utilizado como meio de troca. Rothbard afirma que o formato da moeda e sua nomenclatura não são importantes, pois a relevância está na sua unidade massa, com isso, o seu valor estipulado em contrapartida a uma mercadoria depende da quantidade de dinheiro disponível no mercado, ou seja, qualquer variação na quantidade de oferta da moeda, ou na demanda do consumidor pela moeda, irá interferir em seu preço. Desta forma, torna-se importante que se tenha padrão no sistema monetário, como o padrão-ouro, e que ele seja definido de forma livre pelo mercado, seja utilizando ouro, prata ou outro item, mas tem que ser uma decisão por liberdade do mercado, e não imposta pelo governo.


Quando o governo começa a interferir na oferta da moeda, é inevitável que os indivíduos daquela nação sintam em algum momento o impacto dessa ação. Essa interferência ocorre devido ao fato de o governo ter duas principais formas de receita: a tributação e a impressão, ou cunhagem, de dinheiro. Como o governo não produz, ele não tem algo a trocar por dinheiro, dessa forma a cobrança de impostos e a imposição de taxas e multas é uma das formas de arrecadação, porém não é uma forma popular e traz uma visão negativa para os governantes que a praticam de forma intensa. Para evitar a propaganda negativa de forma imediata, os governantes acabam optando para a segunda forma de arrecadação, que é a impressão do dinheiro, o que gera um impacto negativo também, porém ele só é sentido pela população a médio e longo prazo e às vezes já nem são mais os mesmos governantes que estão no poder quando o efeito se torna intenso. A esse efeito dá-se o nome de inflação, que, de forma sucinta, pode ser explicado como a desvalorização da unidade monetária em relação aos bens e serviços.


Devido ao fato do governo ter o monopólio da emissão de papel moeda e os efeitos inflacionários não serem observados de imediato, os detentores do poder estatal vendem a falácia de geração de riquezas com a impressão de dinheiro. Porém, a inflação não tem benefícios e os mais prejudicados são aqueles de menor poder aquisitivo e que são os últimos a terem contato com as novas remessas de moedas inseridas no mercado. Como afirma Rothbard: “A inflação, portanto, não gera nenhum benefício social; ao contrário, ela redistribui a riqueza para aqueles que obtiveram primeiramente o dinheiro recém-criado, e tudo à custa daqueles que o recebem por último”.


Para reforçar seus pensamentos sobre tudo que debateu nas duas primeiras partes de sua obra, Rothbard realiza, na terceira parte, um relato sobre os principais acontecimentos monetários de 1815 a 1973. Em sua dissertação o autor inicia falando sobre o padrão-ouro clássico, do qual é um ferrenho defensor, e afirma que esse padrão adotado impedia o descontrole dos ciclos monetários, sendo essa a melhor ordem monetária vivenciada pelas nações de todo o mundo. A queda desse padrão se iniciou devido ao fato dos governos tomarem para si o controle monetário, dessa forma tinha total poder para influenciar na oferta da moeda, o que foi feito com maior impacto durante a Primeira Guerra Mundial, na qual muitos governantes inflacionaram suas moedas para cobrir os custos da Grande Guerra. Passando por alguns acontecimentos históricos, Rothbard faz análises sobre os papéis-moedas que flutuam livremente entre si, caminhando cada vez mais próximo da desvinculação do padrão-ouro. Seus comentários chegam até o ano de 1973, onde ele faz previsões não animadoras relacionadas ao sistema internacional monetário.


Para realizar um complemento histórico às análises de Rothbard, Fernando Ulrich faz uma contextualização teórica de 1973 até a grande crise de 2008, e afirma que o colapso monetário vivido pelo mundo é “resultado direto de quatro décadas de papel-moeda puramente fiduciário, sem qualquer lastro além da ‘confiança’ dos governos”.


“O que o governo fez com o nosso dinheiro?” é uma obra rica de informações e com explicações claras e bem exemplificadas, o que facilita a compreensão daqueles que a lerem. É uma leitura que deve ser recomendada sem restrições e que irá elucidar a compreensão de muitos sobre dinheiro, livre mercado e governo.


Hermes Vinícius Fim, Associado Trainee.


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