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Resenha - Fatos e falácias da economia

Resenha Crítica - Por Lívia Dalla, Associada III do Instituto Líderes do Amanhã


“Algumas coisas são passíveis de crença porque comprovadamente verdadeiras. Mas muitas outras são passíveis de crença apenas por serem consistentes com uma visão de mundo amplamente difundida – sendo esta visão aceita como substituta dos fatos. Sujeitar as crenças ao teste dos fatos concretos é especialmente importante quando se trata de crenças econômicas, porque as realidades econômicas são limitações inescapáveis sobre a vida de milhões de pessoas, de tal maneira que diretrizes baseadas em falácias podem ter impactos devastadores. Compreender essas falácias, por sua vez, pode abrir oportunidades inimagináveis de uma vida melhor para milhões de pessoas”. É esse o prefácio da obra, que bem resume o que o leitor encontrará: o autor põe em xeque diversos “lugares comuns” ou “clichês” a respeito de diferentes temas econômicos e demonstra, em parte por análise de dados, que tais afirmações são, na verdade, falácias econômicas.


É com essa proposta que Sowell passa pela análise de fatos e falácias (i) urbanos, (ii) masculinos e femininos, (iii) acadêmicos, (iv) relacionados à renda, (v) raciais e (vi) do Terceiro Mundo. Tudo isso com o objetivo de demonstrar, ao final, que, nem sempre, disparidades ou iniquidades podem ser explicadas pela discriminação.


Isso porque, conforme alerta o autor, as falácias, em geral, são plausíveis e lógicas, não parecem ideias malucas. São sustentadas por palavras indefinidas, com alto grau de subjetividade, e incerteza na sua interpretação, geralmente ligadas a alguma emoção das pessoas – o que é uma desvantagem intelectual, mas uma imensa vantagem política. Quem é que seria contra ideais como “justiça social”, “igualdade” ou até mesmo “democracia”?! Mas cada um de nós tem uma visão diferente sobre o que, na prática, representam tais conceitos e, ainda, quais medidas fomentam o fim pretendido. Ou seja, não há consenso sobre o que fazer para chegar “lá”, porque não há consenso sequer sobre o que o tal destino significa – ou como se materializa.


E, mesmo quando consequências ruins são observadas, é fácil atribuir tais consequências a causas diversas. Isso porque os políticos, em geral, não arcam com as consequências de medidas mal elaboradas ou mal executadas, mas, por outro lado, arcam com severas consequências ao admitir tais erros. Assim, as falácias ganham força e seguem enganando a sociedade. “Evidências são perigosas demais – política, financeira e psicologicamente – para algumas pessoas permitirem que se tornem uma ameaça aos seus interesses ou à própria percepção de si mesmas” – alerta o autor.


Dentre as falácias mais comuns, estão a falácia de soma zero, que parte da falsa suposição de que as transações econômicas são um processo de soma zero; a falácia da composição, ou seja, a crença de que o que é verdade sobre uma parte é também verdade sobre o todo; a falácia das peças de xadrez, que é a presunção de que se possa dispor de diferentes membros da sociedade com tanta facilidade quanto a mão dispõe as peças em um tabuleiro de xadrez; e a falácia do infindável, que ignora o fato de que os recursos são inerentemente limitados.


Especificamente a respeito dos temas tratados, o autor questiona, por exemplo, as críticas que se têm feito às grandes cidades e, ainda, questiona os problemas que se têm identificado (e buscado solucionar, a partir de políticas públicas) nos centros urbanos. Isso porque, a concentração populacional é uma característica das próprias cidades – o que, no entanto, não significa um “excesso de população”. Isso porque, se, por exemplo, mais de três quartos da população de um país ou Estado estiver concentrado em áreas urbanas, isso não quer dizer que o país esteja enfrentando um excedente populacional, mas sim, que aqueles habitantes decidiram, de forma autônoma, concentrar-se em determinadas regiões, arcando com os custos e usufruindo dos benefícios que vêm com essa decisão.


Ainda no que concerne a políticas urbanas, grande parte das políticas de planejamento urbano pressupõe que um pequeno grupo de pessoas sabe melhor do que a própria população como as pessoas devem se organizar e, muitas vezes, as políticas que visam garantir artificialmente o direito à moradia ou a preservação de grandes áreas livres dentro da cidade, acabam por gerar efeito diametralmente oposto ao que se busca e impor grandes custos à população – o que se mantém no tempo, justamente porque aqueles que decidem não sofrem as consequências econômicas de sua decisão.


Nesse sentido, importante registrar que o corte metodológico adotado pelo autor não abrangeu outras questões relativas à urbanização, como a questão de poluição (ambiental, visual e sonora), a preservação do meio ambiente, dentre outras, que também podem influenciar na adoção de restrições às construções pelo governo, o que demonstra que até mesmo as estatísticas apresentadas pelo autor podem comportar interpretações (e conclusões) diferentes daquelas por ele mesmo expostas.


No que concerne à discriminação de gênero, por exemplo, Sowell também logra demonstrar que as estatísticas apresentadas ignoram distinções importantes em outras características das pessoas. Que a renda média das mulheres é mais baixa, porque grande parte opta, em certos períodos da vida, por não trabalhar ou trabalhar menos horas – o que está totalmente ligado aos afazeres domésticos e aos filhos. O autor mostra que o mesmo evento – o casamento – tem efeitos diametralmente opostos em homens e mulheres: ao passo que os homens têm impulsionadas suas carreiras, as mulheres assumem mais responsabilidades fora do trabalho e, por conseguinte, têm sua vida profissional prejudicada. Tampouco podem entrar na comparação homens e mulheres que, embora estejam solteiros no momento da análise, já tenham sido casados, pois tal fato provoca efeitos de longo prazo – positivos nos homens e negativos nas mulheres.


Assim, a diferença salarial entre homens e mulheres é um fato. Mas esse fato não pode ser explicado como discriminação dos empregadores, que, por vezes, respondem a processos que duram anos e custam milhões (em termos de dinheiro e reputação). A disparidade de renda pode ser explicada por numerosos outros motivos que não dizem respeito à discriminação.


Por outro lado, o autor deixa claro que tais eventos capazes de reduzir a renda e o crescimento profissional das mulheres, tem, sim, total correlação com o simples fato de ser mulher. Tanto questões fisiológicas (a capacidade de engravidar e amamentar), quanto questões culturais (homens e mulheres têm a mesma capacidade, em tese, de assumir afazeres domésticos, mas na prática, são as mulheres que assumem em sua maioria ou a maior parte das tarefas).


É mais comum que mulheres se afastem por certo tempo do mercado de trabalho, o que se torna especialmente impactante em profissões que exigem constante atualização – assim, as mulheres costumam optar por carreiras com menor grau de obsolescência que, em grande parte, também oferecem menores remunerações.


Esses são apenas alguns dos interessantes exemplos trazidos pelo autor para fazer cair por terra algumas das crenças já tão arraigadas na sociedade. Sowell traz fatos e dados capazes de nos fazer questionar muitas das coisas em que acreditamos e que, muitas vezes, acabamos mecanicamente repetindo. Isso para nos mostrar que nem sempre (ou quase nunca) diferenças estatísticas podem ser resumidas a discriminações irracionais ou preconceitos. Thomas Sowell traz para “a conta” das estatísticas apresentadas, fatores novos que podem ter sido ignorados nas conclusões adotadas a partir desta pesquisa, para nos fazer pensar.


Lívia Dalla, Associada III.

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