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Resenha - Equipes Brilhantes
Resenha Crítica por Hermes Vinícius Fim, Associado I do Instituto Líderes do Amanhã
O livro “Equipes Brilhantes” é um best-seller do The New York Times e foi eleito um dos melhores livros de negócios de 2018 por Bloomberg e Library Journal. A mente por trás dessa obra, Daniel Coyle, é um renomado autor e jornalista norte-americano. Ao longo de sua carreira, já atuou como consultor de organizações de alto desempenho, como Microsoft, Google, Navy SEALs e Cleveland Indians. O autor já foi duas vezes finalista do renomado National Magazine Award, que premia artigos publicados exclusivamente em revistas. Entre seus livros de sucesso, cabe citar, também, o “Segredo do Talento”, o qual alcançou a lista dos mais vendidos do New York Times. Em “Equipes Brilhantes”, Coyle utiliza de sua vasta experiência para realizar uma extensa pesquisa sobre equipes de alto rendimento em diferentes campos, como esportes, empresas e organizações militares.
Coyle traz no início de seu best-seller o questionamento “por que certos grupos se tornam mais fortes que a soma de suas partes, enquanto outros se tornam mais fracos?”. Em seguida, o autor apresenta um dinâmica que realizou com uma série de grupos formados por quatro pessoas em renomadas instituições de ensino, como Stanford, Universidade da Califórnia e Universidade de Tóquio. Enquanto algumas das equipes eram formadas por alunos de pós-graduação em administração, outros grupos eram constituídos por crianças do jardim de infância. O objetivo era erguer a estrutura mais alta utilizando espaguete, fita adesiva, barbante e um marshmallow no topo. Ao contrário do que a lógica possa sugerir, as crianças do jardim de infância superaram equipes de estudantes de pós-graduação. A explicação para tal fato é que, enquanto os pós-graduandos estavam mais envolvidos na gestão de status e em uma sútil competição, as crianças trabalhavam de forma cooperativa e eficiente, experimentando, corrigindo e alcançando soluções eficazes.
A partir dessa dinâmica, o autor identificou que as crianças recorrem a um método simples e poderoso que proporciona a um grupo pessoas comuns atingirem um desempenho bem superior à soma de suas partes. As ideias apresentadas ao decorrer de “Equipes Brilhantes” buscam contar como esse método funciona. Coyle acredita que equipes de alta performance possuem suas culturas criadas por um conjunto específico de habilidades: A habilidade 1 é a de construir segurança, como as demonstrações de conexão estabelecem laços de pertencimento e identidade; a habilidade 2 é a de compartilhar vulnerabilidades, como práticas de assumir riscos mútuos levam a uma cooperação confiável; a habilidade 3 é a de estabelecer propósito, como narrativas criam metas e valores compartilhados.
Prezar por um ambiente no qual a segurança psicológica está estabelecida é essencial para a assertividade de um grupo. Em um local onde as pessoas não se sintam livres para expressar suas ideias e opiniões, ou testar algo sem medo de errar, não é um ambiente propício para melhorias e inovações. Dessa forma, faz-se necessário construir segurança entre as pessoas ali envolvidas. Mas isso não é algo que se faz de forma robótica ou impositiva. É uma habilidade fluida e que exige improviso. Deve-se compreender quais são os padrões existentes naquela equipe, reagir rápido a situações críticas e saber o correto momento de transmitir sinais que fomentam a conexão entre as pessoas.
Entre os gestos a serem praticados na transmissão dos sinais que promovem segurança, pode-se citar: Evidenciar que está com atenção plena naquele momento em que está com um ou mais membros do time; deixar claro que o ambiente no qual o grupo está inserido permite erros e aprendizados com os mesmos; os líderes devem afirmar que eles também cometem erros; ter escuta ativa e estar aberto para receber feedbacks, principalmente os negativos; permitir com que todos possam expressar o que pensam e fazer contribuições; praticar o ato do agradecimento constantemente. Um exemplo interessante sobre gratidão apresentado na obra é o do San Antonio Spurs, no qual o técnico, Gregg Popovich, agradece individualmente cada jogador por lhe permitir ser seu treinador.
Além de construir segurança, as equipes devem demonstrar abertura ao compartilhar suas vulnerabilidades e reconhecerem seus erros. Pois é por meio dessa transparência que é possível criar conexões mais fortes entre as pessoas e promover uma cultura que entrega resultados consistentes, aprendizados e busca pela melhoria contínua. Um exemplo marcante apresentado é o caso do voo 232 da United Airlines, que fazia o trajeto de Denver a Chicago com 285 passageiros a bordo, no dia 10 de julho de 1989. Nessa ocasião, a tribulação do voo se deparou com um problema raríssimo que privava os pilotos de controlar o avião. Passando por essa situação catastrófica, o capitão, Haynes, fazia perguntas, como “alguém tem alguma ideia?” e “você pode ajudar?”. Essa humildade em reconhecer que não conseguiria resolver o problema por conta própria e admitir que precisava de ajuda foi fundamental para permitir a solução dos entraves enfrentados no voo.
Não é simples desenvolver o hábito de vulnerabilidade em equipe. Isso requer tempo e enfrentamento da dor, até obter o resultado. Algumas dicas para obter sucesso nesse processo são: se tiver que transmitir alguma notícia ruim a alguém, faça isso pessoalmente; ao constituir um time, foque na primeira vulnerabilidade e no primeiro desentendimento; tenha uma escuta ativa; busque adotar práticas que estimulem a honestidade dos membros do time, como as AARs (After-Action Reviews) e o BrainTrust; aceite o desconforto inicial e foque no objetivo de construir uma equipe forte; utilize termos que se adequem para a ação executada; pratique a independência entre o líder e liderado e faça o líder “desaparecer” de vez em quando.
A última habilidade nessa grande jornada é o estabelecimento do propósito da equipe que permita com que todos ali envolvidos compartilhem uma visão clara de seus objetivos. Um objetivo similar permite alinhar os esforços de todos os membros e aumenta a motivação para perseguir e alcançar metas cada vez mais desafiadoras. Coyle observou que em organizações, como a Johnson & Johnson, Pixar e Navy SEALs, foi criado um ambiente de alto propósito. Nessas organizações, as pessoas compreendem como o trabalho que realizam no presente se conecta com um próspero futuro. Mas não é simples implantar esse cenário. Segundo o autor, ambientes assim “são escavados do chão, repetidas vezes, enquanto um grupo, unido, procura resolver seus problemas e evoluir para encarar os desafios de um mundo em perpétua transformação”.
Algumas ideias apresentadas no livro para auxiliar a criação de um ambiente com forte propósito são: Ter claro quais são as prioridades e listá-las pela importância; ao comunicar sobre as prioridades, busque fazer de tal forma que consiga ser dez vezes mais claro do que considera necessário; identifique com clareza em quais áreas e como a equipe busca proficiência e em quais busca criatividade; tenha bordões simples e orientados para ação, como frases de efeito; avalie o que realmente importa para conquistar o que o grupo almeja; concentre-se em comportamentos que estabelecem parâmetros.
Diante de tudo que foi exposto, é possível identificar a riqueza do conteúdo presente em “Equipes Brilhantes”. Uma obra rica em exemplos reais de grandes organizações, não só no âmbito empresarial, mas também esportivo e militar. Além disso, outro ponto forte da obra é a conexão que Coyle faz ao terminar de explanar sobre cada habilidade. O autor traz um fechamento com ideias voltadas para os leitores agirem e desenvolverem, junto aos seus times, cada uma das três temáticas principais do livro. Pode-se concluir que esse best-seller faz jus ao seu status. Portanto, não deve ser apenas lida, mas também estudada e trabalhada por todos os membros de grupos que buscam ser reconhecidos ela alta performance.

Hermes Vinícius Fim, Associado I.