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Resenha - Empresas feitas para vencer
Resenha Crítica por Thiago Garcia, Associado Trainee do Instituto Líderes do Amanhã
Em “Empresas feitas para vencer”, Jim Collins apresenta um estudo que busca responder a seguinte pergunta: como empresas boas passam por um processo rumo à excelência? Para isso, o autor contou com uma equipe de 20 colaboradores, que se empenhou em estudos analíticos, se debruçando em materiais diversos das empresas selecionadas.
Collins é bacharel em Ciência Matemáticas pela Stanford University e possui MBA pela Graduate School of Business. Além disso, trabalhou como consultor da McKinsey & Company e na Hewlett-Packard. Como pesquisador e escritor, ganhou notoriedade pela obra “Empresas feitas para durar” e posteriormente pelo livro-tema desta resenha.
Após um processo sistemático de busca, com foco no retorno acionário ao longo dos anos, Collins e sua equipe encontraram 11 exemplos de empresas que passaram de “boas” para “excelentes”. Além disso, selecionaram 11 empresas de “comparações diretas”, ou seja, empresas que faziam parte do mesmo setor de atividade daquelas que passaram pelo processo de excelência. Também foram selecionadas seis empresas de um grupo intitulado como “empresas não sustentadas”, exemplificando companhias que deram um salto de curta duração de “boas” para “excelentes”, mas não conseguiram sustentar a trajetória e retrocederam.
Após demonstrar os critérios para essa seleção, o autor começa a exemplificar conceitos-chave para que a empresas se tornem excelentes. O primeiro deles refere-se à liderança observada nessas companhias. Trata-se de uma liderança de “nível 5”, que se refere a uma hierarquia de competência dos executivos em cinco níveis. Esses líderes apresentam uma mistura paradoxal de humildade e firme ambição profissional, preparando seus sucessores para que atinjam sucesso ainda maior que o seu.
Por outro lado, as empresas de “comparações diretas” e “empresas não sustentadas” foram lideradas por executivos de “nível 4”, apresentando todas as qualidades técnicas de líderes de “nível 5”, mas sem a modéstia observada neles. Egocêntricos, esses líderes, na maioria das vezes, não prepararam suas empresas para sucessão, ao contrário, muitas vezes as prepararam para o fracasso após suas aposentadorias.
Outro conceito essencial do livro decorre do fato de que empresas que se tornaram excelentes montaram um time de pessoas muito capacitadas antes de definir os rumos que a companhia deveria seguir. O ponto-chave aqui, é que questões relativas a “quem” vêm antes das questões relativas a “o quê”, ou seja, essas pessoas contratadas devem participar do processo decisório nesse movimento de excelência.
Seguindo com o estudo, o autor aborda o “Paradoxo de Stockdale”, presente nas 11 empresas que passaram de “boas” para “excelentes”. O conceito consiste em duas características culturais simultâneas: (1) mantenha a fé de que você vai vencer no final, independente das dificuldades; e (2) enfrente a realidade nua e crua de sua atual situação, seja ela qual for. Importante observar que muitas das empresas que não conseguiram atingir o processo de excelência não o fizeram por não enfrentar suas próprias realidades.
Após apresentar esses conceitos iniciais, Collins demonstra o conceito mais relevante da obra. Trata-se do “conceito de porco-espinho”, fazendo uma alusão a esse animal que sabe uma coisa muito importante: se defender dos seus potenciais predadores. Esse conceito consiste na intercessão de três círculos, que caracterizam necessidades para que a companhia saiba para qual atividade se direcionar. São elas: (1) aquilo que lhe desperta profunda paixão; (2) a atividade na qual você pode ser o melhor do mundo; e (3) o que aciona o seu motor econômico.
Prosseguindo com o estudo, o autor dedica um capítulo para tratar da cultura da disciplina. Collins conclui que resultados substanciais e duradouros dependem da implementação de uma cultura com pessoas autodisciplinadas. Vale destacar que, ao colocar as pessoas certas dentro da companhia, os gestores não devem se preocupar com burocracias para implementar suas culturas. Esses colaboradores são movidos pelos três círculos do conceito de porco-espinho e, por isso, são autodisciplinados.
Sobre tecnologia, Collins observa que as empresas “feitas para vencer” a utilizam como um acelerador, não como um gerador de velocidade. Essas companhias apenas utilizam determinado avanço tecnológico, caso isso se encaixe diretamente ao seu conceito de porco-espinho. Importante mencionar que nenhuma dessas empresas iniciou seu processo de transformação sendo pioneiras em tecnologia. No entanto, todas elas se tornaram as primeiras a adotar esses avanços, assim que perceberam como se encaixavam em seus negócios dentro dos três círculos.
Finalmente, o autor traz os dois últimos conceitos-chave no processo de transformação das empresas de “boas” para “excelentes”: o “volante” e o “circuito de destruição”. O conceito “volante” expõe que a transição para a excelência não acontece de uma só vez, sendo, na verdade, resultado de transformações contínuas que seguem um padrão previsível de construção e ruptura. Para girar um volante, gigante e pesado, é necessário muito esforço inicial, mas se ele estiver sendo impulsionado com persistência em uma mesma direção, por um longo período, acumula impulso e acaba atingindo um ponto de ruptura.
Por outro lado, o conceito do “circuito de destruição” se adequa a companhias que tentaram pular a etapa da construção, com a intenção de saltar direto para a ruptura. Dessa forma, atingiram resultados decepcionantes e não conseguiram manter uma direção constante.
No último capítulo do livro, Collins faz uma conexão entre a abordagem trazida na obra e seu outro estudo, “Empresas feitas para durar”. Mesmo não atribuindo relação entre as abordagens inicialmente, o autor constatou que o processo desenvolvido pelas empresas “feitas para vencer” precede o movimento das empresas “feitas para durar”, sendo complementares as duas abordagens. Portanto, ao passar pelos dois processos, a companhia se torna “excelente duradoura”.
Em resumo, a obra traz aspectos muito interessantes para o processo rumo à excelência em uma companhia. Ao comparar, a todo momento, situações ocorridas em empresas “feitas para vencer” com as vivenciados nas companhias de “comparação direta”, o estudo clareia como os conceitos abordados são utilizados na prática.

Thiago Garcia, Associado I.