Resenha - De Zero a Um

Resenha Crítica por Hermes Vinícius Fim, Associado I do Instituto Líderes do Amanhã

Nascido na Alemanha no ano de 1967, Peter Andreas Thiel, ainda criança, mudou-se com sua família para os Estados Unidos. Desde sua infância, demonstrava grande aptidão por matemática. Ao longo dos anos, foi desenvolvendo interesse por tecnologia e empreendedorismo. Obteve graduação em Filosofia pela Universidade de Stanford e doutorado em Direito pela Stanford Law School. Thiel é cofundador do PayPal, investidor do Facebook e sócio da Founders Fund, fundo que financiou empresas como SpaceX e Nubank. Ao ministrar as aulas da disciplina "Ciência da Computação 183: Startup", o empresário teve suas falas transcritas em anotações do aluno Blake Gates Masters. Foi a partir dessas anotações que o livro "De Zero a Um" veio a ser produzido.

A obra "De Zero a Um" tem um estilo provocativo, advindo do perfil e das experiências de Thiel. Essa provocação está na forma como o autor apresenta sua visão sobre algumas temáticas relacionadas ao mundo dos negócios. Os principais aprendizados da obra podem ser resumidos na compreensão dos temas: progresso horizontal, copiar coisas que funcionam; progresso vertical, fazer coisas novas; diferença entre concorrência perfeita e monopólio.

As primeiras páginas da obra buscam elucidar os conceitos de "ir de 0 a 1", que nomeia o livro, e "ir de 1 a n". Na visão do autor, uma organização que foca em "ir de 1 a n" está vivenciando o progresso vertical ou intensivo, o qual pode ser compreendido como globalização. Esse progresso diz respeito ao fato de se copiar algo que funciona e já exista no mercado. Como exemplo, o autor cita a China, afirmando que o plano dessa nação é se tornar os Estados Unidos. O país oriental vem criando cópias de produtos americanos, com preços mais competitivos e algumas diferenciações. Muitos enxergam esse tipo de progresso como sendo o futuro da geração de riqueza.

Contudo, a globalização não é sustentável em si, visto que sua base está na cópia, ou pequenas modificações, do que já existe, e os recursos do planeta são escassos. Assim, Thiel defende que o futuro está no progresso pautado na tecnologia. Esse é nomeado de vertical ou intensivo. É visto como "ir de 0 a 1", ou seja, criar tecnologias. Assim, faz-se necessário ter o pensamento de startup. Isso significa "questionar ideias já reconhecidas e repensar os negócios do zero", nas palavras do próprio autor. Foi essa visão que permitiu ao Vale do Silício ganhar o renome de "capital da tecnologia", devido ao fato de ser o berço de grandes empresas como o Google. Essa gigante da tecnologia é um perfeito exemplo de monopólio conquistado a partir do pensamento "de 0 a 1".

Nesse sentido, talvez a maior provocação de Thiel em sua obra esteja na visão favorável ao monopólio. Mas não aquele que é praticado de forma antiética, e sim o conquistado através da criação de algo novo. O autor apresenta que o oposto do monopólio é a concorrência perfeita. Esta é pautada em um mercado no qual os competidores ofertam produtos homogêneos, os players possuem liberdade para entrar ou sair da atividade e existe transparência de informações. Porém, apesar de "perfeita" no nome, esse tipo de competição faz com que as empresas operem com uma margem de lucro muito baixa. Como exemplo dessa constatação, pode-se mencionar as empresas de aviação, que em 2012 movimentaram cerca de $160 bilhões, mas obtiveram um ganho médio de 0,20% nas vendas de cada passagem. Para o autor, empresas que vivem nesse tipo de concorrência a longo prazo não conseguem obter lucro econômico.

Em contrapartida, existem empresas que obtêm uma alta margem de ganhos. Essas são as que possuem monopólio de seu nicho de negócio. Como exemplo já citado, tem-se o Google, que por meio de seu excelente mecanismo de busca possui a fatia majoritária desse mercado. Em 2012, a gigante do Vale do Silício movimentou $50 bilhões e obteve lucro aproximado de 21%. O Google conquistou esse efeito pois criou algo inovador, pautou seu negócio na mentalidade "de 0 a 1". Dessa forma, conseguiu se distanciar significativamente de seus concorrentes. Isso demonstra que o monopólio, quando pautado na inovação, não é algo a ser visto como ruim, mas sim admirado. Isso pode ser utilizado como inspiração para que os novos empreendimentos utilizem essa visão para conquistar seu mercado.

Adquirir um status similar ao do Google, Facebook e Amazon não é uma tarefa simples. Existem elementos que são fundamentais para que isso ocorra. O primeiro a ser citado é ter singularidade em seu negócio, ou seja, ir de "0 a 1" e fugir da concorrência, por meio de sua diferenciação. No início, deve-se buscar dominar um mercado pequeno. Após essa conquista, aumenta-se a escala do negócio. É importante criar um monopólio da própria marca, como exemplo tem-se a Apple, que consegue encantar e fidelizar seus clientes utilizando a força de sua marca. Ter uma visão clara, inovadora e ambiciosa de longo prazo é parte crucial para uma empresa manter seu negócio sustentável e dominante. Como último ponto, é válido citar que uma organização é composta por pessoas, assim faz-se necessário ter as melhores atuando no negócio. Ao contratar alguém, é preciso olhar além das atribuições que estão no papel e verificar como esse indivíduo pode contribuir para levar a empresa ao patamar almejado.

Apesar de a obra ser de leitura simples e rápida, ela proporciona reflexões profundas sobre temáticas que às vezes não vêm à mente de forma espontânea. Um indivíduo defensor do livre mercado pode até achar um absurdo as primeiras falas sobre concorrência e monopólio. Porém, à medida que se avança nas páginas do livro, as afirmações do autor começam não só a fazer sentido, mas também trazem insights muito importantes sobre a idealização de um novo empreendimento ou a gestão de um já existente. Dessa forma, a obra "De Zero a Um" se torna importante para aqueles que trazem dentro de si um sentimento de fazer algo grandioso e essencial para aqueles que ainda não possuem esse sentimento.

Hermes Vinícius Fim, Associado I.