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Resenha - Cuba e o Cameraman

Resenha Crítica por Juliana Bravo, Associada II do Instituto Líderes do Amanhã


Lançado no 74º Festival Internacional de Cinema de Veneza, em 2017, “Cuba e o Cameraman” é um documentário original da Netflix, escrito, dirigido e produzido pelo jornalista americano, Jon Alpert. Alpert visitou Cuba pela primeira vez ainda nos anos 1970, o que, ao logo dos próximos 45 anos de revisitas, lhe rendeu mais de mil horas de filmagens brutas para o documentário de 114 minutos.


A força da obra cinematográfica repousa nas contínuas idas de Alpert à Cuba e sua interação com os cubanos. Somos convidados a avaliar as políticas de Fidel Castro pelo olhar do povo que, inusitadamente, oferece simpatia a um ditador que violou reiteradamente os direitos dos indivíduos.


Logo no início da obra, testemunhamos a Cuba de 2016, após falecimento de Castro e a imensa comoção social advinda desse acontecimento. Após o choque inicial, o documentário rememora cirurgicamente os anos 1970 e as políticas instituídas pela ditadura na ilha ao sul dos EUA.


Há uma aproximação do cineasta com Castro, o que resulta em uma entrevista exclusiva que elevou Alpert ao patamar de único jornalista americano a bordo do avião que levou o ditador, em 1979, até Nova York para seu discurso nas Nações Unidas.


Não é difícil sentir, ainda que pela tela, que o carisma de Castro impressiona Alpert. Naquela época, as ideias do cubano poderiam ser mais facilmente confundidas com as reformas sociais que se buscavam – incluindo Alpert - em solo americano. As visitas de Alpert aos personagens recorrentes do documentário sedimentavam o ideal de justiça social profanamente disseminado pelo governo cubano.


Entretanto, a cada nova visita testemunhamos a inevitabilidade da ruína da vida do povo. Dois dos personagens marcantes do documentário são os irmãos Cristóbal e Angel Gregório, fazendeiros que contavam com animais e plantações produtivas. Ao longo da obra, no entanto, testemunhamos o impacto destrutivo do regime de Castro em suas vidas. A propriedade passa a ser vilipendiada, o gado é roubado e, a então vida feliz dos irmãos, se transforma em profunda tristeza.


Caridad é outra personagem de destaque do documentário. A cada nova visita de Alpert, a realidade da mulher se mostra pior, tudo em virtude do regime socialista cubano. Expatriada nos EUA, Caridad passa a mandar o que consegue de recurso aos filhos – ainda em Cuba -, que abalam o telespectador ao exibirem a geladeira desabastecida.


O aumento da criminalidade, os efeitos da queda do muro de Berlim, a perda do poder econômico e a fuga de cidadãos para outros países estampam a capa de um livro cujo fim nos parece inevitável. Apesar do olhar humanizado - inclusive sobre o próprio Castro - trazido pelo filme, é preciso recordar como Cuba era antes da implementação do regime socialista. Na década de 1960, a taxa de alfabetização do país era de 76% e o PIB per capita chegava aos U$S 11,3 mil, em valores atualizados. De acordo com o jornalista Gustavo Segré, Cuba foi o terceiro país do mundo e o primeiro da América Latina a ter ferrovias. Cuba também foi o primeiro país latino-americano a ter iluminação, além de cerca de 90% das residências contarem com rádios e acesso a mais de 140 emissoras.


O regime de Castro arrasou Cuba. De acordo com a Trading Economics, a inflação de 2022 chegou a bater os 34,2%. O salário mínimo mensal flutua entre U$S 87 e U$S 386. A imprensa sofre controle estatal e não é possível sair da ilha sem autorização do governo. Para se ter ideia, ainda de acordo com Gustavo Segré, o cubano comum consegue pagar apenas quatro horas de internet em uma lan house com um salário mínimo; a indústria alimentícia é sucateada, o que faz com que 80% dos alimentos consumidos sejam importados; e os cortes de energia pela falta de investimentos no setor elétrico são constantes.


Quando se levam todas as transformações de Cuba em consideração, a forma apolítica com a qual o cineasta conduz suas interações em certos momentos incomoda o telespectador mais indignado, que pode ansiar por uma postura mais dura e objetiva contra os absurdos causados pela adoção de regimes socialistas. Apesar disso, o documentário oferece uma perspectiva interessante sobre a vida do cidadão comum em um dos países mais longevos sob uma ditadura de esquerda.

Juliana Bravo, Associada II.

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