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Resenha - Cuba e o Cameraman
Resenha Crítica por Gustavo Viana, Associado Trainee do Instituto Líderes do Amanhã
"Cuba e o Cameraman" é um documentário dirigido por Jon Alpert. O filme é uma jornada de mais de quatro décadas pela vida do povo cubano, visto pelos olhos do cineasta. Desde 1974, Alpert visitou Cuba regularmente e documentou a vida das pessoas, suas lutas, sonhos e esperanças.
O filme inicia apresentando uma Cuba majestosa, proeminente e com a economia pujante, pouco mais de uma década após a “Revolução”. Num primeiro momento o documentário até aparenta ser uma propaganda do regime socialista, com Jon Alpert impressionado com a alegria de seu povo e a simpatia de seu ditador. Ciente do poder da propaganda, Fidel Castro concedeu entrevistas exclusivas ao cineasta sempre exaltando o regime, os trabalhadores e a sociedade “igualitária”.
No documentário são retratadas famílias, como a dos irmãos Borrego, já idosos, mas alegres e orgulhos trabalhadores rurais. Em sua primeira visita, Alpert retrata essa família prosperando em sua propriedade, produzindo alimentos com o auxílio de seus animais e o suporte do Estado, com saúde gratuita e de qualidade.
Ao longo do tempo, vemos essa família sofrendo com situação precária que o país passou a apresentar. Eles chegaram a ficar impedidos de trabalhar devido à violência que fez com que todos os seus animais fossem roubados para servir de alimento. Na parte do atendimento do Estado, os hospitais ficaram com atendimento precário, principalmente devido à falta de medicamentos e equipamentos, além do desincentivo à profissão de médico, visto que a remuneração da categoria era inferior aos ganhos de um taxista.
Um fato determinante para a virada de chave do regime castrista foi a queda da União Soviética (URSS). Praticamente toda a economia do país estava interligada com o seu relacionamento com a então União Soviética. Por sua posição estratégica, Cuba era uma vitrine ocidental do regime socialista no “quintal” da maior potência capitalista.
O regime cubano possuía um comércio muito ativo com a maior potência socialista, exportando principalmente açúcar e recebendo toda a sorte de mercadorias. Com o fim da URSS, a economia cubana praticamente entrou em colapso e o povo iniciou seu sofrimento com o racionamento e a escassez, inclusive de alimentos. Isso nos leva à reflexão de que as ações sociais necessitam obrigatoriamente de “alguém” que possa bancá-las.
Todo esse controle e escassez gerados pelo Planejamento Central leva ao surgimento de “mercados negros”, o que é personificado na figura de Luis Amores. Ele é demonstrado como um guia do jornalista por Havana em sua primeira aparição, mas em um segundo momento é noticiada a sua prisão por comércio ilegal. Após sua soltura, vemos visita após visita, ele prosperar através do comércio ilegal de material de construção, com a conivência de agentes do Estado, mediante suborno. São retratadas também diversos casos de famílias que emigraram para os Estados Unidos buscando prosperidade e liberdade.
Cabe ressaltar que, para o Regime Socialista, sempre há um culpado externo para os seus fracassos. Fidel chega a expressar que a escassez e a precarização da situação da população cubana têm como causa principal o embargo econômico dos Estados Unidos. O ditador, então, passa a adotar uma economia voltada para o turismo, gerando uma distorção em todo o mercado, pois as pessoas que atuam com esse segmento são muito melhor remuneradas que profissões conceituadas como médico, jornalista e engenheiro.
Um ponto que sobressai, e é ressaltado por Alpert, é como que, mesmo após décadas, o país praticamente não evoluiu para a população cubana. Sua infraestrutura permanece praticamente a mesma do início do documentário, salvo os redutos exclusivos para turistas, dos quais a população é impedida o acesso.
Por fim, em sua penúltima visita retratada no documentário, o cineasta é recebido pelo ditador Fidel Castro em seu aniversário de 90 anos, após um desfile militar com demonstração “espontânea” de apoio de população. Meses após ele retornar para cobrir o velório e enterro do ditador.
Em resumo, "Cuba e o Cameraman" é um documentário fascinante que oferece uma visão autêntica e envolvente da vida no país e é um exemplo do risco que uma sociedade que adota o socialismo corre.

Gustavo Viana, Associado Trainee.