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Resenha - As Seis Lições
Resenha Crítica por Franco Casotti, Associado Trainee do Instituto Líderes do Amanhã
Ludwig von Mises foi um economista austríaco, cuja carreira foi dedicada à luta em prol das liberdades individuais e do livre mercado. Durante seus estudos na Universidade de Viena, Mises tornou-se, por influência de seu professor marxista Carl Grünberg, um simpatizante do intervencionismo estatal. Pouco tempo depois, Mises foi exposto às ideias de Carl Menger, que o fez abandoar seu posicionamento anterior e aderir ao liberalismo. Mises tornou-se então um crítico árduo das teorias marxistas. Assim, o autor iniciou seu profícuo trabalho na Áustria e o deu continuidade nos Estados Unidos, para onde emigrou antes da Segunda Guerra Mundial. Após seu falecimento em 1973, o pensamento misesiano continuou vivo e fervoroso através dos trabalhos de seu discípulos, e instituições de pesquisa e ensino com o nome do economista hoje residem ao redor do mundo.
O livro "As Seis Lições" foi escrito por Margit von Mises (esposa do economista), sendo ele uma transcrição de seis palestras realizadas pelo economista em 1959, na Universidade de Buenos Aires. Essa obra busca apresentar, de forma clara e lógica, os principais conceitos das ideias misesianas, dividindo-os em seis partes.
A primeira das seis lições de Mises trata sobre o Capitalismo. Nela, o economista explica que o capitalismo foi oriundo de uma inovação que visava produzir bens que satisfizessem o básico das necessidades das massas, que, na época, tanto careciam. Mises relata como eram precárias as condições de vida anteriores ao surgimento desse modelo econômico, que, ao gerar novos empregos, permitiu uma melhora significativa dos padrões de vida. Utilizando como exemplo o período da Revolução Industrial (1760 - 1830), quando, em um curto período, a população da Inglaterra dobrou, percebe-se o quão próspera a sociedade se tornou através do capitalismo. Mises demonstra também como foi através do capitalismo que a diferença do padrão de vida básico entre as classes altas e baixas reduziu significativamente. Isso, tendo em vista que antes do advento do capitalismo, somente os mais afortunados possuíam acesso a itens hoje considerados básicos, como sapatos. Até mesmo carros e telefones, outrora eram itens exclusivos as altas classes, hoje fazem parte do cotidiano de grande parte da população. Em tese, conclui-se que o capitalismo beneficia a população de forma geral, elevando como um todo o padrão de vida enquanto funcionando o grande motor do desenvolvimento das grandes nações.
Em sua segunda lição, Mises aborda o modelo do Socialismo. O economista critica duramente o conceito do planejamento central, expondo como esse priva a liberdade individual e prejudica o desenvolvimento das nações. Para ilustrar melhor a consequência da autoridade única, ou, como descrito por Mises, o “corpo governamental supremo”, o autor faz referência ao sistema de status. No estágio pré-capitalista, o conceito de status era o grande divisor da sociedade, sendo um título que permanecia com cada indivíduo do nascimento à morte. Dessa forma, tornava-se irrelevante o quão capaz ou inteligente um indivíduo era, jamais conseguiria melhorar seu status. Essa tradição se difere imensamente do que observamos no sistema capitalista. O capitalismo é o sistema que promove o maior nível de mobilidade social, no qual o dinheiro se move de mãos com maior velocidade. Pouco importa se um indivíduo nasce de uma família historicamente afortunada, pois, no capitalismo, seu status não garante nada. Um ponto importante levantado por Mises a respeito do Socialismo é a ideia de “conhecimento acumulado”. Em um sistema composto por um corpo governante supremo, só se atribui valor às ideais consideradas importantes pelos governantes. Isso representa uma grande falha no sistema socialista, visto que é humanamente impossível concentrar todo o conhecimento do mundo em uma só fonte. Logo, vemos um desperdício imenso de conhecimento e talento, mostrando de forma clara a magnitude da ineficiência do modelo socialista. É possível concluir, através dessas observações, que uma sociedade na qual a vocação e a profissão de cada indivíduo é definida pelo governo, não se distingue do antigo sistema de status.
A terceira lição de Mises é sobre o Intervencionismo. Mises inicia seu raciocínio afirmando, com clareza, que a função do governo é única e exclusivamente de preservar a ordem. O economista explica que o intervencionismo ocorre quando o governo desvia de sua função original, interferindo, assim, nos preços, padrões de vida, salários, taxas de juros, e nos lucros. Mises exemplifica os males do, intervencionismo, ao mostrar os efeitos do tabelamento de preços, que ao invés de facilitar o acesso a determinado produto (como em teoria), acaba por criar uma escassez de oferta. Mises também defende a ideia de que, sempre que o governo interfere no mercado, é “progressivamente impelido ao socialismo.” Logo, não existe nenhum nível de intervencionismo que seja capaz de melhorar a eficiência do livre mercado.
A quarta lição do livro aborda a inflação, que, de acordo com Mises, não passa de uma estratégia adotada pelos governos para bancar suas despesas as custas da desvalorização do capital dos indivíduos. Além disso, a inflação cria um cenário em que se beneficiam, de forma extremamente desigual, diferentes grupos. Os que possuem o acesso privilegiado ao novo dinheiro injetado na economia são os grandes beneficiados, enquanto o restante que ainda não teve acesso a esse recurso, por consequência arca com preços mais elevados.
A quinta lição de Mises desmistifica o Investimento Estrangeiro. Mises explica que o acesso ao capital é o grande fator responsável por diferenciar os países desenvolvidos dos demais. A Inglaterra, por exemplo, foi uma nação que começou a poupar recursos muito antes que qualquer outra economia. Isso fez com que os Ingleses atingissem abundância de capital e consequentemente tornara-se a nação mais desenvolvida da época. Caso as demais nações tivessem que traçar o mesmo caminho traçado pelos ingleses, sem dúvidas o mundo estaria significativamente menos desenvolvido do que é hoje. O fato é que a estratégia de investimento estrangeiro adotada pela Inglaterra fez com que as demais nações acelerassem significativamente seus processos de desenvolvimento. Observa-se no mundo um padrão onde países que são hostis ao capital estrangeiro se desenvolvem de maneira muito mais lenta do que aqueles que incentivam e protegem os investimentos externos.
Em sua sexta e última lição, Mises aborda o tema Política e Ideias. O foco principal dessa lição é expor como tudo que ocorre em nossa sociedade se origina de ideias. Logo, as ideias intervencionistas, socialistas, e inflacionárias representam um grande mal, que deve ser combatido por meio de ideias melhores. Dessa forma, Mises deixa claro que é essencial defendermos e compartilharmos as ideias liberais, sendo esse o caminho para evitar que ideias maléficas cheguem até o Estado.
O livro é considerado hoje uma peça fundamental da formação liberal, enquanto os conceitos nele apresentados permanecem extremamente relevantes atualmente. De forma rica e objetiva, Mises ensina, através de suas seis lições as ideias, que devem ser defendidas na luta contra a escuridão.

Franco Casotti, Associado Trainee.