top of page
  • Líderes

Resenha - As seis Lições

Resenha Crítica - Por Elimar Lorenzon, Associado Trainee do Instituto Líderes do Amanhã


A obra “As seis Lições”, organizada por Margit von Mises, é a transcrição de seis palestras ministradas por seu marido, o economista Ludwig von Mises (1881-1973), durante uma conferência na Argentina. Mises é considerado um dos maiores nomes do liberalismo econômico do século XX, é reconhecido por sua defesa ao livre mercado, contribuiu também em temas relacionados a política de preços, economia e filosofia social.


O contexto mundial em que Mises disserta sobre o tema tem sua importância na compreensão de suas temáticas. Tendo vivido na Europa durante a primeira guerra mundial e o início da segunda, ele presenciou a ascensão do socialismo e do nazismo no continente. Na época, muitos economistas e intelectuais estavam abandonando a defesa da liberdade individual e da economia de mercado em favor de soluções socialistas ou nazistas para os problemas econômicos da época.


De encontro às tendências socialistas e da rivalidade com o capitalismo ocidental, Mises se dedicou em defesa dos ideais liberais, contexto no qual foi convidado pela Universidade de Buenos Aires a ministrar 6 palestras com os seguintes temas: Capitalismo, Socialismo, Intervencionismo, Inflação, Capital Estrangeiro e Política e Ideias, dos quais veremos os principais tópicos nos parágrafos seguintes.


Em sua primeira palestra, o capitalismo é tratado e defendido em seus mais amplos aspectos. Para o autor, a existência do livre mercado é um fator essencial desse sistema que permite a alocação eficiente dos recursos, limitando ao Estado o papel de fornecer serviços públicos básicos e proteger a propriedade privada. De acordo com Mises, o desenvolvimento do capitalismo consiste no fato de que cada homem tem o direito de servir melhor e/ou mais barato o seu cliente, situação que acarreta em elevação dos padrões de vida da população.


Assim a figura do empresário é peça importante desse sistema: coloca seu capital em risco com o objetivo de obter mais lucro, gerando empregos, demanda por matérias primas e capital suplementar, que, não obstante, é reaplicado para uma demanda superior de trabalhadores, o que torna o sistema próspero e tende a uma elevação nos salários e preços geral dos insumos.


Mises acreditava que o capitalismo permite a livre iniciativa dos indivíduos, incentiva a inovação e o crescimento econômico, sendo o único sistema que propicia essa prosperidade a longo prazo.


No segundo tema de suas palestras, Ludwig von Mises tece uma forte crítica ao socialismo, argumentando sobre sua inviabilidade a longo prazo pelo controle de preços, que, ao contrário do capitalismo, impede a alocação eficiente de recursos.


Outra questão, fruto de reflexões sobre o socialismo, é a liberdade, ou melhor, a falta dela. Sabemos que essa forma de organização econômica impede a mobilidade de status econômico. Um indivíduo não possui o direito de escolher a própria carreira, e é impedido de ser mais feliz e produtivo, deixando à autoridade governamental a tarefa de centralizar as decisões e fazer planejamentos em nome de todos. Sabemos que cada um, melhor que ninguém, decide o que é mais adequado para si.


A terceira palestra de Mises aborda o intervencionismo, uma das práticas do socialismo, na qual o Estado não se restringe ao seu papel de preservação da ordem, mas age de forma ativa de modo a alterar e impedir a atuação do livre mercado.


Nesse sentido, o economista exemplifica as consequências do intervencionismo por meio do controle de preços. A princípio, o objetivo do Estado com essa iniciativa é dar continuidade de acesso para os mais pobres a um ou mais itens considerados essenciais. O efeito de estabelecer um preço máximo abaixo do preço potencial de mercado acaba sendo a escassez desse mesmo produto, tornando-o exatamente o oposto da proposta inicial: o acesso.


Além disso, vale o reforço de que a venda de um produto a preço fixado depende também da estabilização da linha de custos desse produto. Isso, certamente aos economistas mais sensatos, também já fora previsto: o controle de preços causa uma reação em sequência, demandando um controle de preços em toda a cadeia produtiva dos insumos desse mesmo produto, alertando mais uma vez para a inviabilidade dessa prática típica do socialismo.


Em sua quarta lição, Mises disserta sobre o problema do aumento da oferta de dinheiro: a inflação. A exemplificação da inviabilidade desse tipo de política é muito bem destacada com a Alemanha no cenário prévio e pós-Primeira Guerra Mundial, quando o valor da sua moeda, o marco, já não tinha praticamente valor algum. Atualmente, por mais irônico que possa parecer, é justamente no país onde ele explanou suas palestras que vem sofrendo desse mesmo mal, com inflação acumulada de 94,8% em 2022.


Um outro ponto relevante abordado nessa palestra é o paralelo entre inflação e salários, trazendo o caso dos Estados Unidos, que aceita a inflação por acreditar que, somente por meio dela, pode se alcançar a situação de pleno emprego, isto é, empregos para todos que desejam tê-lo. A questão é que a inflação, a não ser em curtíssimo prazo, não cura o desemprego. Inclusive, muito se menciona acerca do papel prejudicial no controle de salários dos sindicatos trabalhistas. Essa sim deve ser outra política evitada em prol do livre mercado e de seus frutos.


Na quinta palestra, Mises aborda a importância dos investimentos estrangeiros para o desenvolvimento de países que não puderam acumular capital suficiente para investir em tecnologia e produtividade. Inclusive, uma das maneiras de impedir a industrialização, a importação de capital e o desenvolvimento de um país é por meio de tarifas e controles de câmbio exterior, isto é, o protecionismo.


Por fim, sua última lição nos gerou uma de suas mais famosas frases: Ideias e somente ideias podem iluminar a escuridão, Mises critica a existência de grupos de pressão e parlamentares que não representam, de fato, a totalidade de seu eleitorado, e como, muitas vezes, os interesses pessoais ou de um grupo são colocados à frente por meio dos representantes do Estado, cujo papel, novamente reforçado, deveria ater-se à preservação da ordem.


Ainda que a Argentina talvez não tenha preservado os ensinamentos de Mises se traçado um paralelo com a atual situação do país, o economista se mostra esperançoso e conclui seu ciclo de palestras em Buenos Aires ao identificar indivíduos e grupos capazes de levar as boas ideias adiante, para justamente, contradizer às teorias ultrapassadas, inviáveis e que, noutrora, tampouco eram questionadas do socialismo, substituindo assim, as crenças em sistemas e práticas que não se sustentam em prol de uma realidade mais desenvolvida e promissa por meio do capitalismo.


Elimar Lorenzon, Associado Trainee

4 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page