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Resenha - As Seis Lições
Resenha Crítica - Por Thiago Garcia, Associado Trainee do Instituto Líderes do Amanhã
O livro “As seis lições” é uma das principais obras de Ludwig Von Mises, precursor da Escola Austríaca de pensamento econômico. Trata-se da transcrição de um ciclo de palestras ministradas, em 1959, na Universidade de Buenos Aires (UBA), nas quais o autor discute de forma clara e objetiva o capitalismo, o socialismo, o intervencionismo, a inflação, o investimento estrangeiro e as relações entre política e ideias.
Importante mencionar que não havia a intenção inicial de transformar esses registros em livro. A ideia e execução veio de Margit von Mises, viúva do autor, que, ao perceber tamanha relevância do conteúdo, resolveu transcrever as palestras ministradas pelo seu marido após o seu falecimento. Sendo assim, a primeira edição da obra é datada em 1979, seis anos após o falecimento do autor.
A primeira lição trazida por Mises é sobre o Capitalismo, na qual o autor expõe que este sistema econômico tem início com o advento da produção em massa na Inglaterra, fenômeno que emerge da situação calamitosa em que vivia grande parte da população no século XVIII. Com o crescimento da população rural, muitas pessoas não possuíam ocupações, o que acabou se tornando um fardo para a sociedade.
Nesse cenário, indivíduos começaram a se organizar para produzir bens que pudessem servir a grande parte da população. O sistema de produção em massa veio para suprir, em grande parte, carências das massas, sendo os empregados das grandes fábricas os maiores consumidores dos produtos que nelas se fabricavam.
Ainda sobre esta lição, Mises destaca a supremacia do consumidor, uma vez que mesmo as mais poderosas empresas não existiriam, não fosse a escolha dos consumidores por seus produtos ou serviços. Além disso, o capitalismo possibilitou a ascensão social e a elevação do padrão de vida da população como um todo. Como exemplo, o autor destaca o fato de camadas mais pobres da população terem padrão de vida superior às classes econômicas mais elevadas de 200 anos antes.
Na segunda lição da obra, Mises destaca o Socialismo, refutando a possibilidade deste sistema de organização econômica dissociar liberdade econômica de outras liberdades. Assim, ao perder a liberdade econômica, o indivíduo acaba por perder todas as outras liberdades. Liberdade econômica é concedida aos indivíduos que possuem o poder de escolher o próprio modo de se integrar ao conjunto da sociedade.
Nesta segunda lição, o autor volta a destacar a soberania dos consumidores sobre as empresas, sendo eles os “chefes” em última instância. O fato de serem soberanos, no entanto, não significa que estão alheios a cometerem erros. Em muitas oportunidades os consumidores compram e consomem artigos que não deveriam.
Além disso, diz estar equivocada a ilustração de uma suposta sociedade capitalista de status criticada por pensadores socialistas. Esse conflito, de acordo com o autor, ocorria nos estágios pré-capitalistas, quando a sociedade se dividia em grupos hereditários de status, nas enominadas “castas” na Índia, por exemplo. Em uma sociedade capitalista, diferentemente das sociedades anteriores, haverá sempre a possibilidade de ascensão social e as elites estão em contínua mudança.
Ainda sobre o socialismo, Mises critica o planejamento central, no qual tudo depende da sabedoria daqueles que integram a autoridade suprema. Essa centralização, inclusive, tende a inibir avanços tecnológicos, pois a ambição de empresários é fundamental para que novos negócios e produtos surjam. Além disso, novos projetos esbarram no cálculo econômico, dado que a falta de preços fornecidos pelo mercado impossibilita a análise de viabilidade de um negócio.
Na terceira lição, o autor fala sobre o intervencionismo, considerando apenas a segurança o dever de um governo em uma economia de mercado. Dessa forma, define como intervencionismo a interferência do governo nos fenômenos de mercado, ou seja, nos preços, nos padrões salariais, nas taxas de juros e nos lucros. Isso obriga os empresários a tomar decisões diferentes daquelas que tomariam caso tivessem que obedecer apenas aos consumidores.
Ainda sobre o intervencionismo, Mises explica que o controle de preços é falho, porque se inicia focado em poucos fatores e acaba se expandindo para todas as modalidades de bens de produção. Sobre o controle de aluguéis, o autor demonstra os malefícios desse tipo de política, que em última instância gera escassez de imóveis disponíveis para a população.
Na quarta lição, Mises trata da inflação, que é causada pela impressão de papel-moeda. Para custear as suas despesas, o governo deve recorrer à arrecadação de impostos, no entanto, maioria dos governos creem que há outro método para obter o dinheiro necessário, simplesmente imprimindo-o. O autor é taxativo ao afirmar que somente o governo é responsável pela inflação, e que inflação nada mais é do que uma política.
Prosseguindo nesta lição, o autor evidencia que, para arrecadar mais fundos, os governos preferem inflação à taxação, dada a impopularidade desta última. No entanto, a inflação não perdura para sempre, em determinado momento, o povo deixa de acreditar que o governo será capaz de deter a inflação e, neste momento, há uma alta de preços em tal nível que o sistema monetário entra em colapso.
Na lição seguinte, é abordado o tema do investimento externo e sua importância no aumento da produtividade de um país. O montante de capital investido per capita, ou seja, a quantidade acessível de bens de capital, está diretamente relacionado à produtividade de um trabalhador ou empreendedor. Portanto, os países são beneficiados pelo aumento do investimento estrangeiro em suas economias.
Nesse contexto, o autor afirma que os países em desenvolvimento necessitam de capital externo para se aproximarem economicamente dos países mais desenvolvidos. Por isso, Mises critica o protecionismo, que por si só não acrescenta nada ao capital de um país. A migração de capital estrangeiro, inclusive, aumenta os salários de uma economia, favorecendo a população como um todo.
Na sexta e última lição, intitulada “Política e Ideais”, Mises explica que anteriormente os governos não interferiam nas condições econômicas do mercado e que o cidadão só tinha o objetivo político do bem-estar da nação. Contudo, esse cenário foi suplantado pelo intervencionismo e fortalecimento dos grupos de pressão, resultando em uma filosofia totalmente inversa.
O autor conclui que ideias intervencionistas, socialistas e inflacionárias devem ser combatidas por outras ideias. Ideias como confisco de propriedade, controle de preços e inflação, por exemplo, devem ser combatidas. E finaliza com a sua célebre frase: “Ideias, somente ideias, podem iluminar a escuridão.”
Em resumo, com um rico conteúdo trazido de forma clara e objetiva, As Seis Lições de Ludwig Von Mises simplifica o entendimento de importantes conceitos e sistemas de organizações econômicas. A obra é de fácil entendimento e pode (e deve!) ser apreciada por leigos em assuntos econômicos ou jovens ainda em processo de formação. Além disso, o texto é uma ferramenta para refutar ideias socialistas e coletivistas, que possam emergir nas mais diferentes esferas da sociedade.

Thiago Garcia, Associado Trainee.