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Resenha - Arriscando a Própria Pele
Resenha Crítica por Tito Kalinka, Associado I do Instituto Líderes do Amanhã
“Arriscando a própria pele” é um best-seller escrito por Nassim Nicholas Taleb. O autor é considerado um dos maiores especialista em probabilidade e incerteza. Foi trader na bolsa de Chicago e lecionou na Universidade de Nova York durante sete anos. Seus livros, entre eles os best-selllers “A lógica do cisne negro” e “Autofrágil”, já foram publicados em mais de trinta e cinco idiomas. “Arriscando a própria pele” mostra que aceitar o risco e considera-lo como uma questão de honra é atributo essencial de um bom número de pessoas de sucesso, se tornando uma regra fundamental do jogo.
No livro I, Taleb começa a nos apresentar um breve resumo sobre o que seria arriscar a própria pele. Arriscar-se não é só necessário para promover a justiça, alcançar a eficiência comercial ou um melhor gerenciamento de risco, mas dar a cara à tapa é essencial para entender o mundo. Se você der uma opinião e alguém a seguir, você é moralmente obrigado a ser exposto às consequências do que falou. Trata-se de simetria, só que mais no sentido de arcar com parte do dano, pagando um preço se algo der errado. Mas, para este autor, arriscar a própria pele diz respeito principalmente à justiça, honra e sacrifício, coisas que são fundamentais para a própria existência dos seres humanos.
O conhecimento que obtemos por meio da improvisação, via tentativa e erro, experiência e repetição, é imensamente superior àquele obtido por meio do raciocínio, algo que instituições têm se dedicado a esconder de nós. Os intervencionistas não só carecem de senso prático e jamais aprendem com a história, como também deixam a desejar até mesmo quanto ao raciocínio puro. Essas pessoas nunca precisam pagar pelas consequências das próprias ações. A burocracia é uma construção pela qual a pessoa é convenientemente separada das consequências de suas ações. Logo, o autor propõe a descentralização e que sejam distribuídas responsabilidades, criando um sistema que nos permite arriscar a própria pele.
No livro II, o autor apresenta a ideia da igualdade na incerteza, estabelecendo o princípio de que precisamos comer o que damos de comer aos outros. Para se ter a igualdade na incerteza, nenhuma pessoa em uma transação deve ter certeza sobre o resultado, enquanto a outra pessoa tem incerteza.
No livro III, fala-se sobre a maior das assimetrias: a regra da minoria. O autor coloca que basta uma minoria intransigente, que arrisca de maneira significante a própria pele, para que a população inteira tenha que se submeter às suas preferências. É suficiente que haja apenas um pequeno número de pessoas intolerantes e virtuosas que arriscam a própria pele, na forma de coragem, para que a sociedade funcione adequadamente. Tão logo uma regra moral é estabelecida, bastará haver uma pequena minoria de seguidores distribuídos geograficamente para ditar uma norma da sociedade. Sim, uma minoria intolerante pode controlar e destruir a democracia. Na verdade, isso acabará por destruir nosso mundo.
O livro IV trata a questão dos funcionários e da natureza da empresa. As pessoas com empregos formais adoram a regularidade e a previsibilidade de seus contracheques e de sua função. O autor aponta como se tivéssemos algo parecido com uma submissão de um cão obediente e domesticado. O empregado, além de ser bom para o seu patrão, deve ser empregável para o mercado como um todo, devendo seguir certos padrões para isso. Um “homem da empresa” é alguém que sente que tem algo enorme a perder se não se comportar como um “homem da empresa”, ou seja, ele arrisca a própria pele.
Já no Livro V, Taleb expõe a ideia de que estar vivo significa assumir certos riscos. A vida é sacrifício e admissão de riscos, e nada que não envolva uma quantidade moderada do primeiro, sob a restrição de satisfazer o último, está próximo do que podemos chamar de vida. Se não se assume um risco de dano real, não vale a pena estarmos vivos. Cicatrizes sinalizam as consequências de arriscar a própria pele. Muito mais será válida a ação sem conversa do que a conversa sem ação.
Dentro do Livro V, o autor apresenta o efeito Lindy, que o efeito do tempo sobre determinada coisa. O tempo depende de arriscar a própria pele. As coisas que sobreviveram mostram alguma robustez. Aquilo que é “Lindy” é o que envelhece ao contrário, ou seja, sua expectativa de vida se prolonga com o tempo, condicionada a sobrevivência.
No livro VI, Taleb questiona a correlação entre a aparência física e as habilidades. Segundo o autor, ter sucesso, apesar de não ter a aparência adequada, é informação poderosa e, até mesmo, decisiva. Normalmente, encontra-se pessoas que desempenham o papel e têm intimidade com os detalhes cosméticos, mas não entendem nada sobre o assunto. O verdadeiro intelecto não deve parecer intelectual.
Taleb deixa para tratar sobre crença e religião no livro VII. Até mesmo para a prática da religião, deve-se arriscar a própria pele. Afinal, para o cristianismo, Cristo se sacrificou pela humanidade. A noção de crença sem sacrifício, que é prova tangível, é nova na história.
Finalmente, no livro VIII, o autor aborda o risco e racionalidade. Quando o ser humano é posto em uma situação que pode interferir em sua sobrevivência, nada mais importa. A sobrevivência vem em primeiro lugar: verdade, compreensão e ciência, depois. Isso acontece devido ao fato de termos evoluído sempre visando a prevenção de riscos que podem causar a nossa morte. Trata-se de uma questão evolutiva, sendo a lógica de conter riscos.
O livro de Taleb traz questões bem atuais que enfrentamos em nosso cotidiano e desmistifica várias delas. Hoje, temos “especialistas” de vários assuntos que não vivem o que sugerem. Pessoas que vendem cursos sobre coisas que desconhecem. Não praticam o “skin in the game”. Tudo isso torna nossa sociedade mais fraca e com menos propensão ao desenvolvimento. Para falar, deve-se fazer

Tito Kalinka, Associado I.