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Resenha - Arriscando a própria pele

Resenha Crítica por Raphael Ribeiro, Associado I do Instituto Líderes do Amanhã


O ser humano, desde seu surgimento, vive em busca da otimização de toda a sua vida, desde aquilo que é trivial, ao essencial para a manutenção da sua existência, principalmente nos processos que estão atrelados a garantir uma melhor qualidade de vida. Porém, com a evolução tecnológica e, acúmulo de capital intelectual, a percepção do que é responsabilidade individual e coletiva vem sofrendo alterações importantes e, devido a isso, muitos indivíduos vivem sem se arriscar ou colocando o próximo em risco em virtude de si mesmo para garantir a perenidade do seu modo de viver. É exatamente nesse ponto que Nassim Taleb, o autor da obra, transcreve em diversas páginas o que de fato é arriscar a própria pele, como era com nossos antepassados, o que mudou no meio do caminho, como alguns ainda vivem assim, como outros ignoram a autorresponsabilidade e, principalmente, como devemos viver sabendo de todas as assimetrias da vida, visto que a maior parte delas não está no nosso controle.


Taleb busca relatar sobre a teoria e prática da vida e, por sua experiência no mercado de ações, representatividade de viver gerenciando riscos, demonstra que todas as esferas que compõe o viver tendem a nos expor de alguma forma ou em algum nível e, por assim descrever, criou quatro constructos macros sobre isso:

  1. Incerteza e contabilidade do conhecimento;

  2. Simetria em assuntos humanos;

  3. Compartilhamento de informações em transações e negociações;

  4. Racionalidade em sistemas complexos e no mundo real.

Esses quatro tópicos foram resumidos no conceito detalhado na obra e o propósito de Taleb é assentar o conceito único de arriscar a própria pele, demonstrando que esses pontos convergem para um único, o qual compõe toda a vida humana e todos enfrentam isso em seu cotidiano.


O resumo introdutório é marcante, pois traz diversos pontos sobre a dependência em evoluir atrelado aos riscos que devemos correr e principalmente, o controle da soberba do homem quando se coloca em posição de perder tudo que tem. O cerne da introdução é marcadopor uma questão complexa em si, e talvez a principal questão de toda a obra, que é a moralidade humana e como essa tem sofrido mudanças com o passar do tempo, tornando o conceito mais amplo, mas sem perder a essência desde seu surgimento.


Taleb abrange o assunto da moralidade ao descrever uma linha do tempo dos valores que a constituem, iniciando pelo código de Hamurabi e a famosa Lei de Talião “Olho por olho, dente por dente”. O cerne da lei não era expressar a literalidade, retribuir com a ação exata, mas, sim, devolver a consequência de quem agiu, na mesma equivalência. Portanto, o que assumiu o risco ao tomar ação, deve sofrer a pena na mesma proporção e intensidade, se lesionou algo ou alguém. Dando sequência a evolução moral, alcançamos um topo a partir da Lei Universal descrita por Kant em 1785 “Age somente, segundo uma máxima tal, que possas querer ao mesmo tempo que se torne lei universal”. A proposição não é trazer a tona o que devemos fazer, porém, o que não devemos fazer com o nosso próximo, adotando a Regra de Prata ou Regra de Ouro Negativa (como o autor descreve), como a forma mais próxima de adotarmos uma moralidade coerente e deixarmos os riscos com quem de fato assume a posição de agir, ou seja, o que arrisca a própria pele e não a dos demais.

Assumir a postura de agir antes de especular e tampouco teorizar aquilo que deveria ser praticado, além disso, apenas aqueles que praticam devem ter o direito de lecionar, porém, na realidade, os teóricos de todas as castas, de economistas, políticos ou formadores de opinião, são os que mais falam a respeito das soluções, porém, nunca colocam a própria pele em risco, pois nunca estão agindo ou executando algo de relevante. Ou, ainda mais grave, nunca sofrem a “pena” de terem agido errado, pois todas as consequência de suas ações são transferidas para os que de fato estão sendo relevantes, esses seriam os políticos municipais, investidores, empreendedores ou trabalhadores dos diversos segmentos.


Um dos pontos altos do livro é como a sociedade é dominada por grupos de pressão, a famosa “minoria” e como elas tendem a “dobrar” todo um segmento ou área quando atingem um certo nível de relevância. Essa teoria de renormalização descrita por Serge Galam, físico francês, descreve a realidade atual e como arriscar a própria pele é mais complexo do que se pode conceber, visto que todo o arcabouço intelectual do indivíduo o tendencia a agir de forma “egoísta”, no sentido de transferir todos os riscos para outrem ou grupo de terceiros para atingir os próprios resultados, ou ao menos manter a qualidade de vida sem sofrer o risco das consequências.


Toda a obra gira em torno de criticar todos os teóricos demonstrando que a incerteza é algo simétrico para todos e isso torna real a vida assimétrica. E ao assumir uma outra verdade diferente dessa é se enganar ou assumir um grupo de renormalização, o qual não arrisca nada de si e, por isso, nunca evolui em nenhum quesito da vida. Não há dúvidas de que Taleb buscou retratar a realidade da vida a partir da sua ótica de gerenciador de riscos e através da suas vivências, valores e conhecimento empírico adquirido lhe permite concluir que teorizar a vida é a forma mais simples e eficaz de não se responsabilizar por nada além dos seus próprios interesses. Dificilmente a sociedade mudará o seu comportamento de forma repentina, porém, enquanto continuarem a existir pessoas acreditando e vivendo de acordo com a Regra de Prata, teremos pessoas arriscando a própria pele, a evolução do humano continuará e a sociedade continuará sendo perpetuada.


Raphael Ribeiro, Associado I.

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