top of page
  • Líderes

Resenha - Arriscando a Própria Pele

Resenha Crítica por Juliana Bravo, Associada II do Instituto Líderes do Amanhã


Lançado em 2018, a obra “Arriscando a própria pele: Assimetrias ocultas no cotidiano”, do autor e analista de riscos Nassim Nicholas Taleb, explora a ideia central das consequências com as quais aqueles que tomam decisões devem arcar. Para o autor, compreender o equilíbrio ou desequilíbrio de risco e recompensa nos sistemas sociais ajuda a explicar como o mundo funciona. Quando os indivíduos submetem outros a situações de risco, à exemplo de uma negociação financeira, devem também compartilhar as consequências do fracasso, tal qual o fariam caso a negociação rendesse bons frutos. Em outras palavras, as pessoas que têm poder sobre os outros devem arriscar a própria pele.


Em muitos casos, conforme observa Taleb, não há equilíbrio entre risco e recompensa e, garantindo o envolvimento dos indivíduos nas consequências, é possível reduzir a lacuna entre a fala e a ação, ou entre o que está no mundo abstrato e o que está no mundo concreto. Ao longo do livro, o autor lança mão de muitos exemplos para ilustrar sua tese. O cerne da questão gira em torno de como aqueles que não “dão a própria cara à tapa” estão mais propensos a tomarem decisões ruins, uma vez que não precisam arcar com as consequências delas.


Taleb nos apresenta inúmeras lições valiosas sobre o papel da responsabilidade individual na tomada de decisões, especialmente quanto aos perigos do exercício do poder por aqueles que não carregam a responsabilidade pelas más decisões. A primeira delas diz respeito à responsabilização pelas ações tomadas, isto é, admissão de erros em vez de tentativas de transferência de culpa a terceiros. A obra sugere que as pessoas devem ser transparentes sobre suas motivações e seus preconceitos, de modo a fomentar confiança e garantir maior grau de cuidado na tomada de decisões.


Outra importante lição recai sobre a assimetria. O livro infere que, para entender verdadeiramente uma situação ou problema, é preciso considerar a dinâmica de poder e a assimetria em jogo. A assimetria, aqui, refere-se à distribuição desigual de poder, recursos ou informações entre diferentes partes. Esse cenário pode causar decisões tendenciosas ou egoístas, pois aqueles com mais poder ou recursos estariam mais dispostos a agir pelos seus próprios interesses, em vez de considerar os interesses de todas as partes envolvidas. Por exemplo, um consultor financeiro que ganha ao recomendar certos investimentos aos clientes tem interesse no resultado, enquanto os clientes não. Essa assimetria pode levar a decisões tendenciosas ou egoístas.


Prosseguindo nas lições extraídas da obra, Taleb reflete sobre o papel do risco na tomada de decisões. É extremamente importante entender minuciosamente os riscos antes de partir para a ação, o que inclui ponderar as consequências de resultados diferentes dos esperados. Partindo de tais ponderações, as pessoas estão mais aptas a decidirem de forma mais estratégica e aumentarem as chances de obterem os resultados pretendidos.


Taleb também nos ensina sobre as ameaças do excesso de confiança. Esse excesso tem o condão de superestimar a capacidade dos indivíduos em controlar resultados, fato que os leva a subestimarem os riscos e, portanto, se exporem a consequências desastrosas. Para evitar o excesso de confiança, o conselho é uma cuidadosa avaliação de riscos e a busca por perspectivas e opiniões diferentes. Na mesma toada, o autor também pontua a importância da transparência e sua essencialidade na garantia de que todas as partes estejam cientes das possíveis consequências de suas ações. Para tanto, é imprescindível, além do diálogo aberto e honesto sobre as justificativas das ações, a disponibilização de informações para todas as partes envolvidas. A transparência constrói a confiança necessária a um processo de tomada de decisão mais colaborativo e eficaz.


Ao decorrer da obra, Taleb observa o papel crucial dos incentivos na formação do comportamento e na – tão debatida - tomada de decisões. Com o intuito de incentivar determinadas ações ou resultados, é necessário, pois, alinhar os incentivos aos resultados desejados. À título de exemplo, se uma empresa deseja incentivar os funcionários a serem mais produtivos, ela pode oferecer bônus para atingir ou superar as metas de produtividade. Alinhando os incentivos aos resultados almejados, é mais provável que os indivíduos foquem em alcançá-los.


Outra regra de ouro contida no decorrer do livro recai sobre os perigos do pensamento de grupo, isto é, os apuros desencadeados pela tendência dos indivíduos, dentro de um grupo, de se conformarem ao consenso sem questionamento ou avaliação crítica das decisões. Nesse ponto, Taleb sinaliza que o encorajamento de diversas perspectivas pode evitar a polarização do grupo e, via de consequência, a má tomada de decisões.


A obra também nos deixa uma lição quando trata sobre o valor da diversidade quando se busca encorajar uma variedade de ideias. São as diferentes perspectivas, o que inclui raça, gênero, idade, habilidades e religião, que previnem o pensamento de grupo. A promoção dessas diferenças, para o autor, cria um ambiente muito mais criativo e aumenta a capacidade de a empresa responder melhor às alterações de cenários externos.


Ao avaliar diferentes sistemas e relacionamentos sociais com o objetivo de ver quem compartilha as consequências e recompensas, ou seja, quem de fato arrisca a própria pele, é possível enxergar o mundo como um sistema construído sobre interdependências. O maior aprendizado do livro é, precisamente, sobre a responsabilidade individual em todos os campos da vida. Quando as pessoas não compartilham as consequências de seus riscos por si tomados, os sistemas sociais estão fadados ao fracasso. Arriscar a própria pele, então, mais que uma virtude, é um dever moral de todos nós.


Juliana Bravo, Associada II.

6 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page