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Resenha - Arriscando a Própria Pele
Resenha Crítica por Gustavo Viana, Associado Trainee do Instituto Líderes do Amanhã
"Arriscando a própria pele", de Nassim Nicholas Taleb, é uma obra lançada em 2018 que desafia o status quo e nos convida a repensar nossas escolhas e ações em um mundo cada vez mais imprevisível e volátil. Taleb, conhecido por suas ideias iconoclastas, nos leva em uma jornada fascinante através de uma série de tópicos relacionados à tomada de riscos e à responsabilidade individual; apresentando diversas analogias referenciando desde a mitologia grega, história romana até os dias atuais.
Ao longo do livro, Taleb argumenta que as pessoas estão cada vez mais desconectadas das consequências de suas escolhas e ações, e que isso está criando uma cultura de irresponsabilidade e complacência. Ele nos convida a assumir a responsabilidade por nossas próprias vidas e a tomar decisões com base em nossa própria compreensão das consequências de nossas ações.
Uma das primeiras analogias é a do gigante Anteu (filho de Gaia e Posseidon). O gigante era extremamente forte quando estava em contato com o chão e tinha o costume de desafiar e matar os viajantes. Quando desafiou Hércules, foi finalmente derrotado e morto, quando o semideus o manteve erguido do solo. Com isso, o autor nos traz que quando perdemos contato com a realidade, perdemos nossas forças e estamos fadados à derrota.
Uma das ideias centrais do livro é a noção de "pele no jogo", que se refere ao fato das pessoas estarem dispostas a arriscar algo pessoal para fazer uma afirmação ou tomar uma posição. O autor afirma que, hoje, o mal do mundo é que temos pessoas que são muito boas em explicar as coisas, ruins em entender e terríveis em fazer.
Essas pessoas fazem parte do que ele chama de “intelligentsia”. Elas não sentem as consequências do que fazem e, para exemplificar isso, a obra traz como exemplo grandes líderes, como Alexandre o Grande e Juliano, que segundo a história eram os comandantes dos exércitos, mas perderam a vida na frente de batalha. Isso é contrastado com o paralelo de que, atualmente, governantes raramente sentem os efeitos (a pele em risco) das suas ações – o que o autor chama de “intervencionistas”. Taleb argumenta que aqueles que não têm "pele no jogo" são menos propensos a tomar decisões responsáveis e a levar em consideração as consequências de suas ações.
Outra analogia que a obra apresenta é sobre o conceito de pele em risco. Um exemplo é dos construtores romanos, que quando construíam uma ponte ou uma estrutura, eram obrigados a morar por um determinado tempo embaixo da estrutura após a sua construção. Isso contribuía para que os construtores romanos se tornassem os melhores de sua época, e suas construções duram até os dias atuais. Podemos também relacionar isso com uma famosa fábula de uma companhia aérea que estava tendo muitos problemas com os aviões manutenidos, apresentando diversas falhas recorrentes e até acidentes. Como solução, a companhia passou a exigir que os mecânicos responsáveis pela manutenção estivessem nos voos posteriores. Com isso, as falhas praticamente zeraram.
O autor também apresenta os conceitos da probabilidade do conjunto e a probabilidade no tempo, e afirma que a probabilidade do grupo não vale para o indivíduo. Para isso, é apresentada hipótese de um grupo de 100 pessoas que vai ao cassino; caso uma dela perca tudo, a probabilidade de falha do conjunto é de 1%, mas quando vamos para a probabilidade de individuo, isso não é válido. Além disso, a obra demonstra o conceito do índice de confiança, que é quanto se ganha da estratégia quando ela funciona, versus o quanto se perde se der errado. Isso é ilustrado pela roleta-russa, na qual o prêmio financeiro não vale o risco da ruína, ou, nesse caso, de perder a vida.
Outro tema importante do livro é a ideia de que as instituições são cada vez mais falhas em sua capacidade de lidar com o risco e a incerteza. Taleb nos alerta sobre a tendência de confiar em especialistas e modelos matemáticos para prever e gerenciar riscos, argumentando que essas abordagens são frequentemente falhas e podem nos levar a tomar decisões desastrosas.
Em vez disso, Taleb defende uma abordagem mais humilde e empírica para lidar com a incerteza, enfatizando a importância de estar ciente de nossas limitações e de estar disposto a aprender com nossos erros. Ele nos convida a adotar uma mentalidade de "antifragilidade", que se refere à capacidade de prosperar e crescer em face da adversidade e da incerteza.
No geral, "Arriscando a própria pele" é uma obra fascinante e desafiadora que nos leva a questionar nossas suposições e a repensar nossas escolhas e ações como pessoas e líderes.

Gustavo Viana, Associado Trainee.