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Políticos: arriscando a nossa pele
Artigo de Opinião por Jhonnilo Cunha, Associado II do Instituto Líderes do Amanhã
Nassim Taleb, um matemático e filósofo libanês, é conhecido por suas ideias sobre risco e incerteza, e uma de suas ideias mais populares é o conceito de "arriscar a própria pele" (skin in the game). De acordo com Taleb, as pessoas que têm “a pele em jogo” têm um incentivo mais forte para agir com responsabilidade e tomar decisões sábias, porque têm algo pessoalmente em jogo.
Aplicando esse conceito ao mundo político, é fácil ver por que Taleb acredita que muitos políticos são incapazes de tomar decisões eficazes. Parece uma básica falha construtiva no sistema: muitos políticos não têm skin in the game. Eles podem tomar decisões que afetam negativamente as pessoas sem sofrer quaisquer consequências pessoais. Por exemplo, um político pode decidir aumentar os tributos em uma determinada área a qual pouco lhe afeta, ou até mesmo não lhe afeta de forma alguma, ficando imune às consequências financeiras, já que não pagará esses impostos.
Essa falta de skin in the game pode levar a políticas irresponsáveis e decisões ruins. Políticos sem a pele em jogo são mais propensos a tomar decisões com base em seus próprios interesses, em vez de no interesse da população. Eles podem estar mais preocupados em garantir a reeleição ou receber doações de campanha, em vez de agir de maneira ética ou em benefício real de seus eleitores, da população.
Por outro lado, há políticos que consideram a sua reputação como a sua própria pele em jogo, logo, estarão mais propensos a tomar decisões informadas e responsáveis. Se tomarem uma decisão ruim, eles sofrerão as consequências pessoais. Isso é mais fácil de se enxergar em esferas menores. Por exemplo, se um legislador municipal passa uma lei que acarreta o fechamento uma empresa que emprega muitas pessoas em sua comunidade, ele provavelmente sofrerá as consequências políticas, como uma possível perda de votos, prejudicando sua reputação.
Parte do problema está na junção da impessoalidade criada por esferas maiores, como as esferas Estadual e Federal, com o baixo nível de instrução da população. Dessa forma, políticos reproduzem falácias populistas que ludibriam as pessoas em torno de uma ideia que pode aparentar ser boa em primeira instância, mas que traz consequências desastrosas para a economia. Há vários exemplos, um deles é a intervenção econômica e o tabelamento de preços. A história nos mostra a catástrofe que tal medida traz, porém, é recorrente a proposição de ideias desse tipo.
A polarização é outra forma de munir políticos que não têm a pele em jogo de argumentos para driblar a população. Qualquer medida que der errado, qualquer coisa que estiver ruim no governo, basta culpar a oposição e um mar de militantes irá apoiar cegamente a narrativa. Nessa história toda, a pele que está em jogo certamente não é a dele, é a sua, contribuinte.
Em resumo, o conceito de arriscar a própria pele de Taleb serve como um farol na hora de entender o papel, a índole e as ações de alguns políticos em certas medidas. Mais uma vez a chave para a solução dessa falha construtiva no “sistema” é a educação. Educação para poder discernir fatos de falácias; educação para poder visualizar melhor quais políticos têm ou não skin in the game, quais estão mais propensos a tomar decisões responsáveis e quais escolhem aquelas que beneficiam apenas a si mesmos ou a uma classe em detrimento das outras.
É imensurável a importância de promovermos a educação da população para que ela, naturalmente, leve os políticos a assumir mais riscos pessoais em suas decisões. Somente assim iremos garantir que eles ajam com responsabilidade e ética em nome da população.

Jhonnilo Cunha, Associado II.