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O Trumpismo e o Abalo a Democracia Liberal
Artigo de Opinião - Por Leonard Batista, Associado III do Instituto Líderes do Amanhã
A palavra “democracia” origina-se do grego antigo e, numa tradução literal, significa governo do povo. O termo surgiu para denotar os governos existentes nas cidades gregas do século V a.C., em especial Atenas.
Ao avaliarmos a evolução do tema, a concepção de democracia mudou muito desde o século V a.C. e, por isso, podemos considerar que há democracias que se apresentam em vários graus diferentes de desenvolvimento. No entanto, é imperativo dizer que, apesar dos conflitos geopolíticos contemporâneos, após a queda do bloco soviético e com o fim das ditaduras militares na América Latina, nunca tantas pessoas viveram com suas liberdades civis garantidas como atualmente. O mundo respira a Democracia Liberal.
A Democracia Liberal tem os Estados Unidos como referência de nação que cunhou sua história através da defesa das liberdades individuais de seus cidadãos. A representatividade do povo por meio do voto, a manutenção da independência dos estados e a harmonia das instituições do Estado fizeram do país norte-americano uma referência para o restante do mundo. Como resultado prático, o desenvolvimento econômico permitiu um maior poder geopolítico e, consequentemente, uma maior influência em grande parte das nações ao redor do mundo.
No entanto, seguindo uma visão aristotélica do assunto, os governos tendem a se degenerar com o tempo. Estaria a Democracia Liberal sujeira à essa visão de Aristóteles? O presente artigo tem por objetivo avaliar os efeitos do Trumpismo neste cenário.
Donald Trump foi eleito em 2016 e se tornou o 45º presidente dos Estados Unidos ao derrotar a até então favorita candidata democrata Hillary Clinton. A própria eleição do novo presidente que, a princípio, deveria ser um motivo de comemoração, se tornou o primeiro ato de contestação. Já naquele momento, o empresário americano afrontou a legitimidade das eleições que ele próprio vencera, argumentando fraude no processo de contagem de votos e uma possível vitória com maior distância de sua concorrente. Começava ali, um movimento concreto e repetitivo de ataques à democracia mais sólida do mundo, que viria a se tornar característica clássico do movimento denominado de Trumpismo.
Ao final de seu mandato ocorreu a disputa eleitoral com seu adversário Joe Biden e, após a derrota, um novo ataque à democracia americana. Trump novamente fez acusações públicas de fraude eleitoral e moveu processos judiciais. Aqui tínhamos o ápice de uma série de críticas à eleição americana, que repetida paulatinamente ao longo de quatro anos, se transforma em um movimento de massas em prol do candidato Republicano.
Ao não aceitar sua derrota nas urnas, Trump ordenou que oficiais do seu governo não cooperassem com a transição presidencial. Os ataques à democracia continuaram utilizando, como canal principal, redes sociais como o Twitter. No entanto, uma de suas falas chamou a atenção: "Grande protesto em D.C. em 6 de janeiro. Esteja lá, será selvagem!". Isso porque no mesmo dia ocorreu a invasão do Capitólio por partidários favoráveis à permanência do republicano no poder. A manifestação, que tinha como objetivo forçar que o congresso rejeitasse a vitória do presidente eleito Joe Biden, foi marcada pelo uso da força e da violência e teve imagens veiculadas em tempo real para todo o mundo.
Após Trump, muitos indivíduos passaram a olhar para a democracia americana como uma possível farsa. Fica claro que, nos acontecimentos citados, o líder da maior e mais importante democracia liberal do mundo, utilizou de suas armas para influenciar sua base eleitoral através de um populismo, encharcado de um discurso de “nós contra eles” e que beira ao coletivismo, para desacreditar o processo democrático dos Estados Unidos. A tentativa de interromper a certificação de um processo eleitoral, soa como a “cereja do bolo” para um trumpismo que deixa como principal legado a depreciação da democracia liberal americana. Aristóteles estava certo mais uma vez.

Leonard Batista, Associado III.