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O que esperar do futuro do MBL?
Artigo de Opinião por Luan Sperandio, Associado III do Instituto Líderes do Amanhã
O Movimento Brasil Livre (MBL) surgiu como o principal think tank de mobilização do país em meio a uma crise política, econômica e institucional, a partir de 2014.
Desde o início, o movimento esteve confortável com o "conflito" e atuou como oposição, contribuindo significativamente para o impeachment de Dilma Rousseff. O MBL representava pautas que, à época, eram consenso no Brasil, sendo muito fortes dentro da política simbólica, em temas como anticorrupção, antiprivilégios e necessidade de reformas estruturais.
Com as eleições de 2018 e 2020, figuras importantes do MBL, como Kim Kataguiri, Fernando Holiday e Arthur do Val, conquistaram mandatos na Câmara dos Deputados e Câmara de Vereadores de São Paulo e na Alesp.
O MBL buscou sustentação pelo conflito, ao abraçar temas de indignação popular, como a corrupção e a má gestão do bem público, que trouxeram apoio ao movimento.
Entretanto, por serem atores da esfera anti-PT junto com Bolsonaro, mesmo tentando manter distanciamento, eles foram percebidos como tendo "telhado de vidro" quando a direita e Bolsonaro chegam ao palácio do planalto.
Essa percepção resultou no rompimento com o bolsonarismo, o que resultou em última análise em uma organização política sem apoio do anti-bolsonarismo e perdendo parte do antipetismo que passou a apoiar somente Bolsonaro.
O movimento teve que se adequar a um novo cenário político, com a direita no poder e a polarização em alta, e isso representou um grande desafio.
O MBL é reconhecido por sua abordagem reativa, o que pode limitar sua capacidade de propor soluções. Para consolidar sua relevância política, é essencial que o movimento seja propositivo, e apresente soluções e projetos que vão além de críticas e posicionamentos contrários.
Surge, em 2019, o MBL 3.0, que propunha uma formação de lideranças locais para atuar em pautas municipais e políticas públicas, e adotar uma postura mais focada em "policy" do que em "politics". No entanto, a comunicação do movimento enfrentou dificuldades nesse processo de rebranding, agravadas pela pandemia, o que leva ao estabelecimento do projeto acadêmico MBL que talvez não tenha tido o resultado esperado
O MBL, ao ingressar na polarização política, entrou em discordâncias com outras organizações que antes pareciam próximas. A política de construir pontes é essencial para conquistar resultados materiais, manter mandatos e expandir projetos. No entanto, a perda do mandato de Arthur do Val por uma polêmica foi prejudicial ao movimento. As eleições de 2022 foram frustrantes, resultando apenas na reeleição de Kim Kataguiri e Guto Zacarias na Alesp.
Durante seu mandato, Kim Kataguiri apresentou muitas relatorias e projetos interessantes, como o de regularização fundiária. No entanto, a postura de outsider política teve seu preço, e evidencia que é necessário buscar articulação no ambiente político.
Esse projeto exemplifica isso, depende do presidente da Câmara de criar uma comissão especial, e está parado desde 2019.
O futuro do MBL depende de sua capacidade de se adaptar aos desafios políticos em constante mudança. Para recuperar sua força e expressividade, é fundamental que o movimento encontre uma abordagem mais propositiva, busque construir pontes, articule-se com outras organizações e amplie seu alcance, e foque não apenas em temas reativos, mas também em soluções e políticas públicas que sejam relevantes para a sociedade.

Luan Sperandio, Associado III.