top of page
  • Líderes

O caso Americanas, as big four e a regulação do mercado

Artigo de Opinião - Por Jhonnilo Cunha, Associado II do Instituto Líderes do Amanhã

Recentemente, a novela envolvendo a Americanas SA tem deixado o mercado alerta acerca de vários aspectos relacionados ao papel da auditoria e a necessidade de regulação no mercado financeiro e de capitais. A Americanas é uma das maiores varejistas do Brasil e uma das marcas mais conhecidas pelo público. A empresa passou por anos intacta aos olhos de empresas de auditoria big four PricewaterhouseCoopers (PwC), mesmo com práticas contábeis duvidosas. Somente após a declaração do ex-CEO, Sérgio Rial, indicando que a empresa inflava seus resultados financeiros, que o mercado reagiu ao ponto de a empresa ter de pedir Recuperação Judicial. Contudo, o que esse case demonstra sobre o papel das auditorias e da regulação no mercado?


A princípio, embora seja importante garantir a integridade do mercado financeiro e de capitais, a regulação excessiva pode criar uma falsa sensação de conformidade e prejudicar os investidores. Isso ocorre porque muitas vezes a regulação excessiva cria uma barreira à entrada para novos concorrentes no mercado, o que acaba limitando a concorrência saudável e beneficiando as empresas maiores e estabelecidas.


Além disso, a regulação excessiva também pode criar um ônus financeiro significativo para as empresas, que precisam dedicar uma quantidade significativa de recursos para garantir a conformidade regulatória. Esses recursos poderiam ser mais bem utilizados em outras áreas, como investimentos em pesquisa e desenvolvimento ou na expansão de seus negócios, o que poderia gerar um benefício maior para a economia como um todo.


A regulação excessiva também pode gerar incentivos perversos para as empresas, que podem se concentrar na conformidade regulatória em detrimento da inovação e da criação de valor para os acionistas. Isso pode levar a uma cultura de conformismo e mediocridade, que pode ser prejudicial para a economia como um todo.


Em relação ao caso específico da Americanas, a auditoria PwC não cumpriu o seu papel de identificar possíveis irregularidades nas práticas contábeis da empresa. Nesse sentido, a forma de trabalho das auditorias "big four" deve ser questionada, uma vez que essas empresas muitas vezes possuem conflitos de interesse, já que prestam serviços tanto para as empresas que auditam, quanto para seus clientes.


Além disso, as auditorias "big four" muitas vezes são criticadas por focarem em questões formais de conformidade regulatória, em vez de analisar de forma mais crítica os riscos financeiros e operacionais das empresas auditadas. Isso pode levar a uma falsa sensação de segurança para os investidores, que muitas vezes confiam cegamente nos relatórios de auditoria sem avaliar os riscos envolvidos.


Em conclusão, embora a regulação seja importante para garantir a integridade do mercado financeiro e de capitais, é importante ter em mente que o excesso de regulação pode gerar mais danos do que benefícios. Dessa forma, é preciso encontrar um equilíbrio entre a necessidade de regulamentação e a necessidade de permitir a livre concorrência e inclusive a inovação.


No caso da Americanas, é importante que a empresa preste esclarecimentos à sociedade e tome medidas para corrigir as irregularidades em suas práticas contábeis. No entanto, é fundamental que a auditoria também tenha uma postura crítica e analítica em relação às práticas contábeis e financeiras das empresas, a fim de garantir que os investidores tenham informações mais precisas e confiáveis sobre o desempenho das empresas.


Em relação à forma de trabalho das auditorias "big four", é importante que haja uma maior transparência e accountability sobre as atividades dessas empresas. É fundamental que haja uma maior separação entre as atividades de auditoria e as atividades de consultoria, a fim de garantir que não haja conflitos de interesse entre os interesses das empresas auditadas e os interesses das empresas de auditoria.


Por fim, é notório que a regulação não trouxe benefício neste e em diversos outros casos. Em detrimento disso, é importante que haja uma cultura de transparência e responsabilidade do indivíduo em relação ao mercado financeiro e de capitais. É necessário que haja uma maior conscientização sobre a importância da avaliação crítica das informações financeiras e contábeis divulgadas pelas empresas, a fim de garantir que os investidores tomem decisões informadas e que o mercado funcione de forma mais eficiente e justa para todos os participantes. A regulação deve se limitar ao trabalho de punir fraudes, em vez de criar mais exigências e requisitos que geram mais custos para as empresas e induzem a uma falsa sensação de conformidade nos investidores. Assim, teríamos investidores mais educados e atentos para negócios fraudulentos e, naturalmente, não seriam necessárias as atuações ineficazes de auditorias e agências reguladoras.


Jhonnilo Cunha, Associado II.


9 visualizações0 comentário
bottom of page